O que é melhor para crianças com idades que variam de 3 a 6 anos? Freqüentar uma pré-escola, dentro de um colégio grande, onde permanecerão até terminar o colegial ou freqüentar uma pré-escola pequena, e depois passar para uma escola grande?

Na opinião de alguns pais, seus filhos pequenos devem ir desde logo, para uma escola grande, para se acostumarem desde já às dificuldades inerentes a este tipo de instituição. Para eles, estar em uma escola grande facilita muito a vida da criança, uma vez que ela não passará por nenhum tipo de avaliação para ingressar na 1ª série do ensino fundamental, além de ter garantida sua estada até o final do colegial. Na verdade, os pais é que se sentirão mais confortáveis com esta possibilidade.

E o que pensa a criança sobre isso? Como ela se sente diante de uma escola enorme, de um pátio igualmente enorme, de uma classe abarrotada de crianças tendo ela que lutar pela atenção da professora? Como ela se sente diante das dificuldades encontradas em situações do dia-a-dia como ir ao banheiro ou se desvencilhar da embalagem do próprio lanche?

Muitas vezes os pais compram a idéia de uma determinada escola e se deixam seduzir por ela, sem avaliar o impacto que esta escolha terá sobre seu filho. Por vezes deixam de lado o propósito principal de uma escola e se deixam levar por parques sedutores, computadores de última geração, dentre outras coisas, numa tentativa de oferecer o que há de melhor e mais moderno para o seu filho, esquecendo que este filho é uma criança.

Por vezes se sentem culpados por trabalharem o dia todo, ou por morarem em apartamentos ou até mesmo pelo fato de terem que deixar as crianças o período todo na escola. Normalmente, eles vêem esta última colocação como uma penalidade. Então, para compensar esta "punição", querem dar aos filhos uma escola com cara de clube, onde a criança se sinta em um parque, onde vai para poder principalmente correr e brincar...

Entretanto, uma escola é uma escola e sempre será uma escola. E isso deve ser dito às crianças. Elas vão lá para aprender; aprender sobre as coisas, aprender sobre como se relacionar, como brincar, mas sempre aprender. Este é o objetivo maior da escola-aprendizado.

Então temos que dar condições para que esta criança, de fato, se sinta motivada para o aprendizado. Para tanto, ela não pode estar cansada fisicamente, porque correu grande distância e venceu muitos obstáculos o dia todo. Ela não pode estar desmotivada porque os brinquedos são mais sedutores que os desafios cognitivos. Ela não pode se sentir desamparada nas suas necessidades porque não há adultos disponíveis. Ela não pode se sentir ameaçada por ter que se relacionar com muitos colegas etc. etc.

Criança pequena precisa sim de espaço para exercitar suas habilidades motoras sem que ela se sinta exaurida, precisa de um colo afetuoso quando se sentir insegura, precisa saber que pode contar com um alguém que a estará acompanhando no seu crescimento, e deve se sentir amada pelo seu grupo de amigos. Amigos estes que foram conquistados e que serão mantidos, ao longo do tempo, lidando paulatinamente com as desavenças surgidas.

Os pequenos devem ter a oportunidade de receber "feedbacks" constantes dos colegas e professores para aumentar sua auto-estima, ver assegurada sua auto-imagem e poder seguir em frente cada dia mais seguros de si. Crescer por si só já é bastante estressante para a criança. Crescer sob tensão é mais estressante ainda. Tudo na vida, quando possível, deve acontecer devagar, para que possa ser bem elaborado. Não é saudável expor crianças pequenas a um alto grau de exigência física, emocional e social.

Todas as atividades, na medida do possível, devem ter cunho relaxante e recreativo. Aprender brincando é o maior desafio de uma boa escola. Por outro lado, uma escola que só proponha atividades recreativas, sem objetivo nenhum é bobagem. A criança não deve ser subutilizada. Deve, isso sim, ser estimulada para crescer e valorizada por crescer.

A natação, por exemplo, assim como os demais esportes, não deve ter cunho competitivo de sempre ganhar. Deve ser uma atividade prazerosa, uma brincadeira com momentos nos quais os fundamentos do esporte são abordados e momentos outros nos quais a criança explora, brinca e relaxa dentro d’água. Também são fundamentais as atividades nas quais sejam apresentados assuntos de interesse da criança por faixa etária e nos quais sejam avaliados os conhecimentos prévios sobre aquilo que será abordado.

Equilíbrio entre recreação, atividades cognitivas, atividades físicas, atividades de cunho social e momentos de relaxamento devem ser determinantes em uma pré-escola. Nada que seja muito exagerado, que a criança necessite fazer um esforço também exagerado para absorver. O que queremos é que ela vá tranqüila para a escola e volte feliz para casa. E, principalmente, que ela volte feliz para casa com muito para contar do que viu, viveu e principalmente do que aprendeu.

Nota do Editor: Maria Guimarães Drumond Grupi é psicóloga, pedagoga e diretora do Ponto Ômega - Centro de Cuidados Infantis, em São Paulo (SP).