Um ventilador ruidoso, todo torto, Agarra-se como pode ao precário forro de madeira, Em esforço inútil para espantar o calor, Enquanto fica bulindo na farofa E nos cabelos do casal suarento da mesa 7. Quase que prestes a despencar De seu suporte ornado de fuligem Em requintes de rendas negras, O aparelho de TV, de cores já cansadas, Distorce imagens já distorcidas deste Brasil. O bife, como, não se sabe, é saboroso. Os olhos fundos e suplicantes de dois cães Espiam compridamente para dentro, Na esperança de que um osso, rejeitado, Voe de alguma mesa e pouse na calçada infecta Para servir seu único possível banquete. Na rua, pernas apressadas passeiam toscos "outdoors" humanos, A escancarar uma absurda concentração de renda, Juros incríveis, Desemprego desenfreado, Violência, Corrupção... corrupção... corrupção... (Todos campeões do mundo). A novela encerra, com "glamour", mais um capítulo. Agora, mesa azul/prateada flutua num céu Onde um casal bem posto Informa que a comitiva presidencial Está em viagem rumo a Roma Para os funerais do Papa. O grupo, pretendido ecumênico "no úrtimo", Pecou pela ausência da mãe-de-santo, Chegada com atraso em Brasília, Desconectando agendas. Imagens de gente bonita Com destaque para miss Brasil, "Que vai representar a mulher brasileira No concurso de Miss Universo". Modelos em carne e osso, Craques exportados do nosso futebol, Personalidades da TV, O "mago imortal" Paulo Coelho, Banham-se em luxo e charme De sorrisos congelados, Na ilha de Caras. No intervalo comercial A mensagem oficial e otimista Fecha a peça publicitária: "Brasil, um país de todos". Nota do Editor: Pedro Paulo Teixeira Pinto é professor e ex-prefeito de Ubatuba. (Fonte: Ubatuba Víbora)
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