Longa metragem de João Batista de Andrade sobre Vladmir Herzog, que estréia sexta-feira, em São Paulo, é um importante documento histórico para as próximas gerações. Já como obra cinematográfica deixa muito a desejar.
O longa metragem "Vlado: 30 anos depois", de João Batista de Andrade, estréia nesta sexta-feira nos cinemas de todo país. Se você quer assistir ao filme, vá logo, porque sua vida na tela grande promete ser curta. O documentário de Andrade sobre a história do jornalista Vladmir Herzog, assassinado pelos militares em 25 de outubro de 1975, é um importante documento histórico. Serve como registro para as próximas gerações conhecerem o começo do último capítulo dos anos de chumbo. E impede que o assassinato de Herzog se transforme em mais um capítulo de ficção nos arquivos dos militares, que simularam um suicídio para justificar uma execução sumária. Seus méritos terminam por aí. Para o leigo no assunto - ou para aqueles que conhecem o episódio, mas não os personagens envolvidos - o documentário promete ser enfadonho. Um amontoado de entrevistas. Ao longo de quase duas horas, Andrade ouve as figurinhas carimbadas que sempre são chamadas para contar a mesma história na mesma data, nos últimos 30 anos. Clarice Herzog, Paulo Markun, Fernando Pacheco Jordão, Audálio Dantas, Diléa Frates, João Bosco, Dom Paulo Evaristo Arns, Rodolfo Konder, Mino Carta, Rabino Sobel, Luis Weis e Antony Cristo cumprem o papel de manter viva a memória. Mas não contam nada de novo. Como reportagem "Vlado: 30 anos depois" podia ter ido mais longe. Podia, por exemplo, ter investigado o paradeiro de um dos grandes carrascos desta história, o jornalista Carlos Marques, responsável pelas notinhas de jornal difamatórias que instigaram a prisão de Vlado. João Batista de Andrade Com o documentário "30 anos depois", o cineasta João Batista de Andrade, que também é Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, preenche uma lacuna em sua filmografia. Amigo de Vladimir Herzog, Andrade não encontrou forças, em 1975, para transformar o crime em filme. Essa idéia se transformou em uma obsessão, que o perseguiu nos últimos 30 anos. "É o resgate do que eu não filmei na época. Eu nunca me recuperei do impacto dessa perda. Eu me sentia desarvorado, assustado, sem saber o que fazer. Eu, que filmava tudo, por que não aquele momento?", conta. Além do documentário sobre Herzog, Batista, que era repórter especial da TV Cultura, onde Vlado era diretor, em 1975, dirigiu outros 11 longa-metragens e 49 curtas para cinema e TV.
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