A assessoria de imprensa se tornou um serviço tão importante que até "Jesus", ou melhor, seu sósia, conta com uma equipe para pregar sua palavra nos meios de comunicação. Chegou a hora da coletiva de imprensa. Assunto: pecuária. Jornalistas especializados estão a postos com seus gravadores e bloquinhos esperando para saber as novidades e formular suas perguntas. Acompanhado de sua assessora de imprensa, a grande estrela do evento entra no auditório e é almejado pelos flashes. Uma pena que o personagem não poderá responder às suas perguntas. Nem participar do almoço após a coletiva. Motivo: o cliente, no caso, é um touro. Seu nome: Bandido, a estrela da novela global. A jornalista que trabalha a imagem do "Bandido" na mídia é Elaine Madalhano, 29 anos, da Lacerda Comunicação, empresa com sede em Rio Preto (SP). Seu principal cliente, o touro Bandido, é famoso no mundo dos rodeios e alcançou o estrelato com a novela global "América". Desde que assumiu a conta do bovino, ela não escapa das piadinhas dos colegas, que querem saber, por exemplo, como ela organiza as tais coletivas, se nos almoços com a mídia são servidos capim e daí por diante. "Faço assessoria para o Paulo Emílio - dono do touro - há nove anos. O Bandido veio há cinco e sempre tivemos um trabalho específico para ele. Depois da novela, o touro ficou muito mais famoso. A curiosidade das pessoas só aumenta e as piadas também", garante. Mesmo atendendo outros clientes através da assessoria, Madalhano tem em Bandido seu principal cliente. Sua fama, alcançada por ser invencível nas arenas, fez com que muitas lendas girassem em torno dele. "Dizem que o Bandido tem alma, índole. Na verdade, creio que ele tenha o espírito dominador e, por isso, quando algum peão tenta parar nele, ele reage derrubando e atacando", explica Elaine - que garante não ter medo do cliente. "Já cheguei perto várias vezes, passei a mão na cabeça. Não tenho nenhum medo. Para mim, ele é até dócil", completa. Assessoria de fé Tão inusitado quanto assessorar um boi, é fazer a assessoria de Jesus. Este é o caso de Alíbera França, 27 anos, que cuida da imagem de Inri Cristo - homem que acredita ser o próprio Cristo Vivo. "Muitos o julgam louco e nos julgam (discípulos) fanáticos. Minha função é justamente mostrar o Inri que a TV não mostra", avalia a assessora, que se tornou discípula. Aos 15 anos, Alíbera encantou-se pelos ideais de Inri e, tanto fez, que convenceu sua família que o melhor a fazer seria segui-lo. "Levei meses para convencê-los de que era aquilo o que eu queria para a minha vida, e a minha família, por sua vez, levou mais algum tempo para convencer o Inri a me aceitar como discípula", diz. Atualmente, Alíbera elabora releases, envia para a imprensa, divulga o site de Inri, estabelece contatos, agenda entrevistas e o assessora em tudo que envolva a sua imagem perante a mídia. No entanto, acredita que os erros de divulgação cometidos no passado comprometem seu trabalho. "Hoje, conversamos antes com a produção dos programas e nos certificamos de que não vão tratá-lo como um adivinho. Ele é o Cristo Vivo, não um vidente", diz. O limite é o bom senso Se todo mundo tem direito a uma ampla defesa e a um advogado, o mesmo vale para um assessor de imprensa. "Não há nenhuma restrição quanto a quem o assessor deve ou não deve atender. Tudo vai depender de seu bom senso", avalia Carlos Henrique Carvalho, secretário-executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom). Segundo Carvalho, a Abracom prega apenas que as empresas sejam éticas nas relações com os clientes, mas procura não interferir com quais clientes cada empresa trabalha. "Há aquelas que dispensam alguns trabalhos por incompatibilidade ideológica". Mexer com religião, por exemplo, há empresas que não fazem, mas não existe nenhuma restrição. Óbvio que ninguém irá assessorar um criminoso, mas volto a dizer: o limite é o bom senso", finaliza.
|