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25/10/2005 - 05h21
Miriam Leitão recebe o Cabot em Nova York
Angela Pimenta
 

De acordo com o jargão jornalístico americano, não existe nada menos sexy do que a cobertura de economia. Pois foi graças a mais de trinta anos de jornalismo econômico - destrinchando o sobe e desce da inflação, da taxa de juros e os embates do país com o FMI - que a brasileira Miriam Leitão, das Organizações Globo, recebeu na noite de quinta-feira, dia 20, o prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia.

A 67 edição do Cabot, a mais abrangente e prestigiada premiação jornalística das Américas, seguiu a tradição com um jantar de gala sob a cúpula greco-romana da Low Library, na praça central do campus da universidade.

"Miriam Leitão é uma verdadeira jornalista multimídia, cuja reportagem tem sido um exemplo notável do jornalismo explicativo", disse Lee Bollinger, presidente da Columbia, ao entregar o prêmio.

Em seu discurso de agradecimento, Miriam disse: "Hoje é o dia mais importante de toda a minha vida profissional. De agora em diante devo trabalhar ainda mais duro para reforçar os compromissos jornalísticos que me trouxeram até aqui."

Critérios

Ao contrário do prêmio Pulitzer, também administrado pela Columbia e que cobre obras de ficção e coberturas jornalísticas específicas produzidas em língua inglesa nos Estados Unidos, o Cabot premia a carreira integral do ganhador.

Dois critérios principais norteiam a escolha dos premiados: comprovado compromisso com a liberdade de imprensa e a busca daquilo que a Columbia chama de "compreensão inter-americana." Trocando em miúdos, ao longo de sua carreira, o ganhador deve ter revelado e analisado aspectos até então desconhecidos da América Latina e Caribe e sua possível relação com os Estados Unidos e Canadá.

No caso de Miriam Leitão, saltou aos olhos da comissão julgadora o seu trabalho investigativo sobre as mazelas sociais brasileiras, como a recente série que fez para a TV Globo sobre a pobreza no país, retratando a penúria de gente de carne e osso que vive escondida atrás de estatísticas.

Além disso, em suas colunas, Miriam esclarece para o grande público aquilo que é fundamentalmente importante - como atas do Copom e o risco-Brasil - mas que carece do apelo fornecido, digamos, pelo finado casamento de um Ronaldo e uma Cicarelli.

Basta dar uma olhada em "O Globo" para conferir que diariamente ela cumpre a mais básica cartilha jornalística: apuração exaustiva, ouvindo todos os lados da história e atribuindo a informação publicada à devida fonte, ou admitindo quando certo dado foi obtido em off. Tudo num estilo franco mas sem personalismo.

É um jornalismo sem mágicas. Ele permite que o leitor, ouvinte ou telespectador refaça o percurso cumprido da apuração à edição, aceitando ou rejeitando as conclusões da colunista.

Aliás, sob crescente escrutínio do público, as melhores redações americanas se esforçam cada vez mais para seguir tal receita.

Percalços

Longe da pompa da Low Library, na última terça-feira, Miriam e os demais quatro premiados desta edição do Cabot - Tim Padgett, chefe da sucursal de Miami da revista Time, Mabel Rehnfeldt, repórter investigativa do jornal paraguaio ABC Color, Alejandro Urbina, diretor do jornal costa-riquenho La Nación e S Lynne Walker, chefe da sucursal de Miami da agência Copley News Service - deram uma palestra para os alunos da escola de jornalismo da universidade.

Eles falaram de suas dificuldades diárias no trabalho. "É inacreditável a mudança que políticos latino-americanos como Lula, José Dirceu ou Vicente Fox atravessam quando chegam ao poder," reclamou Padgett, tarimbado por mais de quinze anos de cobertura na América Latina. "Depois de vencerem as eleições, eles se tornam inacessíveis aos repórteres americanos, esses ’imperialistas’."

"Mas não é só com vocês que isso acontece," observou Miriam. "Lula também tem falado pouquíssimo com a imprensa brasileira." Para ela, seu maior desafio é entender a complexidade e as conexões entre pobreza, desigualdade e corrupção no Brasil.

Mas nada disso se compara à dureza da vida de Mabel Rehnfeldt, a única mulher a fazer jornalismo investigativo no ABC Color de Assunção. Seu currículo ostenta a cobertura de temas que vão do crime organizado a abusos cometidos por policiais nas prisões do país.

Depois de uma série de reportagens sobre o suposto assédio sexual cometido por um bispo católico paraguaio, Mabel começou a receber ameaças anônimas e sua filha sofreu uma tentativa de seqüestro.

"Já fui processada várias vezes e morro de medo do que possam fazer contra a mim ou a minha filha," disse Mabel. "Mas não desisto, e de agora em diante quero dar mais ênfase à cobertura do que acontece no setor privado."

Ao final da palestra, o professor Josh Friedman, da escola de jornalismo, perguntou ao ganhadores do Cabot se apesar das dificuldades, eles recomendariam a América Latina como futuro campo de trabalho aos alunos da Columbia.

Todos encorajaram os alunos a trabalhar na região, citando pautas obrigatórias, como a Venezuela de Hugo Chávez, as conquistas sócio-econômicas do Chile e a política mexicana.

"Somos uma região extremamente complexa, com problemas imensos, mas de grande potencial," disse Miriam. "No Brasil, por exemplo, não faltam histórias, que vão da luta contra a corrupção ao futuro da Amazônia."


Nota do Editor: Angela Pimenta é free-lancer em Nova York e mestre em jornalismo com especialização em novas mídias pela Universidade de Columbia.

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