Segundo estudo da ECA, até os anos 80, o sucesso vinha das músicas das novelas; na década seguinte, os videoclipes da MTV passaram a ditar o que era sucesso entre os jovens. Além disso, a estética usada nos clipes influenciou o cinema nacional A estética dos videoclipes brasileiros vem servindo de laboratório para a produção cinematográfica nacional. Um exemplo é o clipe da música "Segue o Seco", de Carlinhos Brown, interpretada por Marisa Monte. A peça produzida pelos diretores de cinema José Henrique Fonseca (que posteriormente dirigiu "O Homem do Ano") e Cláudio Torres (diretor de "Redentor") inaugurou uma "estética do sertão" que influenciou, em diversos níveis, filmes como "O Auto da Compadecida", dirigido por Guel Arraes, "Central do Brasil" e "Abril Despedaçado", de Walter Salles, "Eu, Tu, Eles", de Andrucha Waddington, entre outros. O especialista Guilherme Bryan, que analisou a história do videoclipe no Brasil, lembra que o clipe ’A Minha Alma’, da música do grupo Rappa e dirigido por Kátia Lund e Paulo Lins, também é praticamente um laboratório para o visual de ’Cidade de Deus’, filme no qual ambos os diretores participaram. Bryan apresentou seu estudo de mestrado na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O pesquisador destaca que além dessa influência estética, muitos dos diretores de videoclipes nacionais se tornaram, posteriormente, reconhecidos produtores e cineastas. "Temos, por exemplo, a Conspiração Filmes, onde estavam Andrucha Waddington, Cláudio Torres, José Henrique Fonseca e o também diretor de cinema Breno Silveira ("2 Filhos de Francisco"). A Olhar Eletrônico, de sociedade entre o roteirista Marcelo Tas e diretor Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") - que depois iria montar a O2 - também atuava na área de videoclipes, assim como a Academia de Filmes, do [artista multimídia] Tadeu Jungle". História e MTV A história do videoclipe no Brasil teve início em 1975, no programa Fantástico, da Rede Globo, com o clipe da música "América do Sul", interpretada por Ney Matogrosso e dirigido por Nilton Travesso. "Até 1981, somente o Fantástico exibia e produzia videoclipes, na maioria de grandes artistas da época e de músicas relacionadas a novelas", relembra. O passo seguinte começou a ser dado a partir de 1981, época em que algumas produtoras independentes passaram a produzir videoclipes procurando se diferenciar do "Padrão Globo", mas sem se distanciar muito dele. Ainda naquele ano, no dia 1º de agosto, nascia a MTV norte-americana, cujos videoclipes também eram passados no Fantástico e eram modelos para os produtores independentes. Ainda nos anos 80, diz, diversos programas de videoclipes começaram a surgir em canais da TV aberta. Na extinta Rede Manchete, era exibido o "FM-TV" (com o apresentador João Kleber no comando) enquanto a Record exibia o "Videorama" e a Gazeta, o "Clip Trip". Seguindo a lista, a TV Cultura apresentava o "Som Pop", a Rede Globo, além do "Fantástico", possuía o "Clip Clip", e por fim, o SBT Rio transmitia o "Realce" e a Bandeirantes o "Super Special". A grande mudança, no entanto, veio com o nascimento da MTV Brasil, em 20 de outubro de 1990. "Os videoclipes da MTV passaram a ditar o que era sucesso entre os jovens. Até os anos 80, o sucesso vinha das músicas das novelas. Já na década de 90 e hoje, se tornou possível fazer sucesso a partir de outro meio que não a Rede Globo, que é a MTV. Temos exemplos em bandas como Skank, Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu, CPM 22, Detonautas Roque Clube - grupos cujas histórias se confundem com a do videoclipe no Brasil e mais especificamente na MTV", conta Bryan, que possui uma coluna quinzenal na página da MTV. Segundo o pesquisador, videoclipe e a MTV "são fundamentais para compreensão da geração jovem dos anos 90 e da atual também". Para ele, é a consolidação, no Brasil, da cultura rock ’n’ roll iniciada nos anos 50 nos Estados Unidos, em que, percebendo-se o potencial de uma nova classe de consumidores - os jovens -, passou-se a lançar produtos que estivessem relacionados com seus cotidianos. Bryan destaca a pouca pesquisa em torno da produção e a grande dificuldade em encontrar dados sobre os videoclipes antigos. "Para se ter uma idéia, quem foi consultado na MTV sequer sabe o diretor do primeiro videoclipe deles, "Garota de Ipanema" (interpretado por Marina Lima). Tudo isso está influenciando a vida dos jovens, mas não se tem o cuidado de pesquisar e arquivar esses documentos. É um assunto esquecido quando se pensa em produção audiovisual brasileira".
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