"I heard a news today, oh boy,
four thousand holes in Blackburn Lancashire,
and though the holes were rather small,
they had to count them all,
now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall"
 Lennon & Mcartney

Segundo os Beatles em sua música A Day in the life, havia quatro mil buracos em Blackburn. Eram pequenos, mas todos tiveram que ser contados para saber quantos preencheriam o Albert Hall.

Segundo meu oculista preciso trocar de óculos. Não é de agora. Gostaria muito de fazê-lo. Faltam condições financeiras para tal, confesso. Assim caminho como posso, obscurecido pela visão parcial. Isso não faz de mim um Lula que nada vê, nada sabe, nada ouve. Na falta de um dos sentidos, dizem, outros se aguçam mais.

No caso especifico, que colocarei em questão, não há necessidade de tanto sentido. Basta andar, dirigir, bicicletar. Como todos nós andamos, ou dirigimos ou bicicletamos, constatamos que se formos contar os buracos por onde transitamos, ao contrário dos de Blackburn, perceberemos que não são tão pequenos e devem passar dos quatro mil. Há bibocas de tamanhos diversos.

Começo pela periferia. Na Marafunda para alcançar a Escola Municipal e a Estadual logo ao lado daquela, você tem o sortilégio, ou não, de encontrar variedades de buracos. Pode servir de começo para um curso de graduação em humanas ou exatas: as mazelas de uma administração ou com quantos buracos não devemos administrar. Se você nunca esteve em uma tempestade no mar com ondas dantescas tente ir de carro as escolas mencionadas acima. Você se sentirá um verdadeiro lobo do mar com o carro subindo à direita, à esquerda, pra cima, pra baixo, você se contorcendo ao leme, êpa, direção tentando manter o carro em sua rota. Dou uma dica aos motoristas radicais que gostam de rally: comecem pela Marafunda.

No centro da cidade parece que só nós contribuintes e otários andamos de carro, a pé, moto ou de bicicleta. O Sr. Prefeito, assessores e secretários devem usar algum dispositivo que os impede de sentir por onde passam, dirigem, se locomovem. Não falo em ver porque parece ser um mal endêmico no Brasil. Alias, na direção do que é público ninguém vê, ninguém sabe, ninguém ouve. Lula está fazendo escola (arrrgh). Os nossos dirigentes têm a quem seguir, a quem mirar. Por isso que sou monarquista, pelo menos poderíamos ter um pouco mais de classe. Sorry, não, isso eles também não sabem o que é.

Se houver algum fool on the Hill, como do alto se vê melhor, talvez ele possa contar os buracos e dizer ao prefeito quantos são! Ou quantos buracos mais precisamos para afundar a cidade. Ou até dizer, oh boy, desse buraco não sai tatu!

Como não temos compositores famosos - como os dois Beatles - para falar das mazelas desta cidade não lerei as noticias, oh boy, dizendo que as ruas serão asfaltadas. Asfaltadas, não recapeadas. Asfalto, não tapa buraco. Não saberei do comprometimento com os que aqui vivem e visitam. Com os que pagam impostos e, apesar dos pesares, investem na cidade. Pelo andar da carruagem (se ela conseguir andar) e pelo aumento dos buracos logo estaremos fazendo jus à expressão: em qual deles você vive?