Foi em Santos, há muito tempo, que tudo começou num dos esportes mais populares no Brasil, o surf. Mais precisamente 70 anos atrás, quando um adolescente de 16 anos resolveu pegar onda, iniciando a história do surf no País. História que será retratada, promovida e enaltecida no 2º Santos Surf Festival, de 21 a 27 deste mês, numa semana totalmente voltada à modalidade. O público poderá conferir várias atrações durante os sete dias, como o Museu do Surf e o Brasileiro de Longboard Profissional no Quebra-Mar e atividades pela cidade, como a mostra de filmes no Cine Roxy.

O adolescente que em 1935 construiu sua própria prancha e caiu no mar, inspirado por um modelo visto na revista norte-americana Popular Mechanics, está hoje com 88 anos de idade. Thomas Rittscher Júnior, um dos homenageados do Santos Surf Festival do ano passado, confessa que se sente satisfeito com este tipo de reconhecimento. Ele recorda que na época, a prancha - chamada de tábua havaiana - era muito diferente dos modelos atuais.

"Lembro que na época eu ficava feliz ao ver o entusiasmo dos praticantes que surgiam. A rapaziada costumava chutar lata, bola de meia, aí apareci eu com uma tábua havaiana de 60 quilos e três metros de comprimento. Muita gente vinha ver", recordou.

"Aprendi sozinho, após muitos tombos. Mas depois que comecei a pegar o jeito, andava e até ficava de cabeça para baixo", destacou Thomas, que teve como companheira nas ondas a sua irmã Margot. "Quando você pratica um esporte na juventude, como no nosso caso, não imagina que aquilo um dia se tornará uma coisa excepcional. Para nós era apenas uma diversão, que felizmente foi adotada pela juventude. E agora somos até homenageados, fico muito honrada", contou Margot, que está com 90 anos.

Os dois irmãos - que nasceram em New Jersey, nos Estados Unidos, e chegaram ao Brasil em 1928 - ressaltaram a popularidade que o surf atingiu. "É algo merecido, pois é um esporte além de tudo muito bom para a saúde. Ele requer o uso de todos os músculos contra um elemento da natureza, que é a água", disse Margot.

"O surf requer muita atenção e preparo físico. Não é tão fácil como parece não", complementou o irmão, revelando que ainda gostaria de acompanhar as competições de perto, mas um problema no joelho o incomoda. "Tenho ficado mais em casa. Também não acompanho na tevê porque não gosto de assistir televisão", explicou.

Mas nem algo ligado ao surf? Aí Thomas abre uma curiosa exceção. "Vou te contar uma coisa. Eu gostava muito de ver aquele seriado americano, o Baywatch. Tinha uma rapaziada saudável e, de vez em quando, aparecia alguém pegando onda", revelou.

ENGENHARIA - Outros santistas pioneiros do surf nacional, na mesma década de 30, foram Osmar Gonçalves e João Roberto Suplicy Hafers, o Jua. Foi no verão de 38/39 que os dois amigos surfaram sua primeira onda, próximo ao Canal 3. Eles estavam com 16 anos e, coincidentemente, usaram como base um modelo da revista Popular Mechanics. Porém, contaram com o apoio técnico do engenheiro naval Júlio Putz.

Os dois utilizaram tábuas de cedro de quatro metros, transformadas em uma prancha de 3,60 metros e 80 quilos de peso, oca e costurada com parafusos de latão de boa qualidade. Essa prancha foi usada pela dupla durante seis anos. E com tanto peso, o máximo que conseguiam era pegar, em média uma onda por hora.

Osmar morreu em 1999, enquanto Juá faleceu em dezembro de 2004. Assim como Thomas e Margot, eles também receberam homenagens na 1ª edição do Santos Surf Festival. E serão sempre lembrados por seu pioneirismo. "Sinto um prazer e uma saudade muito grande de um irmão extraordinário ao vê-lo ser homenageado por ter sido um dos pioneiros do surf no Brasil", disse Luiz Marcos Suplicy Hafers.

O mesmo sentimento é compartilhado por Maria Aparecida Simon Gonçalves, esposa de Osmar. "Fico muito feliz quando sei que o Osmar é lembrado. Ele era uma pessoa muito querida", ressaltou ela, que está com 78 anos e acompanhou as manobras de Osmar. "Quando começamos a namorar ele tinha 18 anos. Na época eu pedi as fotos dele surfando que ele guardava e as tenho até hoje", afirmou.

Maria Aparecida diz que gosta de acompanhar os eventos de surf transmitidos na tevê. "Felizmente muitos campeonatos estão sendo mostrados. Assisto sempre que posso", garantiu. Vale comentar que os quatro pioneiros serão lembrados novamente durante a solenidade oficial feita na Prefeitura Municipal, na sexta-feira (dia 20), às 18 horas. No dia seguinte será comemorado o Dia Municipal do Surf. A data entrou para o calendário da Cidade pela Lei Municipal nº 2.172, graças à propositura do vereador Fábio Nunes, o Fabião.

O 2º Santos Surf Festival tem o patrocínio de VI Fiberglass Foam e Sabesp, com o apoio da Prefeitura Municipal de Santos, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Turco Loco e a colaboração do Caderno de Esportes de A Tribuna. Incentivadores culturais: Silver Surf, Sthill, Rip Wave, Surf Store, Classic Longboards, Hot Water, Zampol e Hawaii Surf Point. Realização da Federação Paulista de Surf, com homologação da Associação Santos de Surf e divulgação da FMA Notícias.