O Brasil é o maior exportador de tabaco desde 1993 e o segundo maior produtor do produto no mundo, segundo dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). A força do setor no Rio Grande do Sul é representada pelas 97,5 mil famílias envolvidas na atividade. A produção gaúcha é de 392,8 mil toneladas na safra atual, que, no Brasil, deve ultrapassar 800 mil toneladas, segundo a Afubra. A movimentação financeira das exportações brasileiras de fumo deverá chegar a US$ 1,6 bilhão. Governo iniciou propostas diversificar cultura do tabaco no Brasil Após ratificação da Convenção Quadro para Controle do Tabaco no ano passado, o Brasil, maior exportador do produto e segundo maior produtor mundial, precisa iniciar um programa para reduzir a produção. Nesta semana, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, apresentou o Programa de Apoio à Diversificação Produtiva das Áreas Cultivadas com Fumo no município de Santa Cruz do Sul para mais de 200 produtores. A Convenção-Quadro é um documento internacional que estabelece metas para a redução do consumo e da oferta de tabaco no mundo. Já foi assinado por 168 países. O governo brasileiro assinou o tratado em 2003, mas a ratificação só aconteceu em novembro do ano passado, depois de ser aprovado por unanimidade, pela Câmara e pelo Senado. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do país. Dos 10 municípios da Região Sul que mais investem na atividade, nove são gaúchos, o que representa cerca de 50% da produção de tabaco na região Sul. Agora, o governo deve apresentar até o final de março alternativas para os produtores. Segundo o delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Rio Grande do Sul, Nilton De Bem, o Brasil ratificou no ano passado a convenção por uma questão de saúde pública, mas não haverá constrangimento ao produtor que seguir plantando. "Não haverá sanções ou retaliações ao Brasil por isso. Queremos reconstruir a matriz produtiva das pequenas propriedades, oferecendo condições para a diversificação", explicou Nilton durante apresentação do plano de diversificação à fumicultura. Sobre o programa de apoio, o delegado disse que o governo federal tem recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com taxas de até 3% anuais, dependendo do enquadramento do produtor. "A assistência técnica terá mais recursos, vamos estimular a pesquisa e o investimento em outras atividades, como frangos, hortigranjeiros, mamona, ou o biodiesel", completou. Conheça a história de três famílias de fumicultores de Santa Cruz do Sul O agricultor Dalvo Inácio Schmidt, de 53 anos, planta fumo, junto com a família, em apenas dois hectares de sua propriedade que tem 53 hectares de área, 30 deles aproveitáveis para lavoura. "O fumo ainda é o melhor negócio para o pequeno produtor familiar", diz. As demais plantações são para subsistência. Os Schmidt - a esposa Claudete e as filhas Carla e Raquel - trabalham na lavoura, e não pretendem descartar o fumo "enquanto não houver uma alternativa viável". Eles aguardam com expectativa o programa do governo federal que vai apoiar a diversificação na região. "A gente já ouviu falar na mamona, no girassol e em outras culturas, mas de concreto, o que temos agora é a garantia dada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, de que o programa será feito com os produtores e lideranças da região". A família Schmidt acha que precisaria de seis a dez anos para mudar de cultura por causa de toda a infra-estrutura já adquirida para "a cultura que é secular para nós". Dalvo disse que recebeu a cultura de seu pai e do avô, que também herdaram de seus antecedentes. "A família veio da Alemanha para o Brasil em 1890, e começou a plantar fumo com as sementes que trouxeram. Hoje eu sou avô também e continuo plantando fumo", explica. Na família Pappim da Silva - onde o pai, Aldoir da Silva, a mãe, Alvorina Pappim da Silva, os filhos Marcos e Claudio Vanderlei com a esposa Mônica Inês, plantam quatro hectares de fumo - a diversificação não é novidade. Segundo o agricultor Marcos Pappim, de 28 anos, a experiência da família com cultura alternativa começou em 1998, com a plantação de pêssego e, mais tarde, com piscicultura. "O fumo é uma cultura que trás malefícios aos produtores, prejudicando a nossa saúde. Para produzi-lo trabalhamos direto no sol. A gente sabe os riscos que corre na lavoura", afirma Marcos. "Só que não podemos aceitar acabar de vez com a cultura porque ela é o carro-chefe da nossa família, a que está dando mais renda atualmente", explica. O agricultor conta que trabalha na lavoura desde os 10 anos de idade, "no tempo em que criança podia trabalhar juntando folha, carregando fumo pra fora da lavoura". Considerados novos fumicultores, a família da Silva planta tabaco há 30 anos. Já a agricultora Maria Erocilda Dick Fish, de 43 anos, é fumicultora há 15 anos. Proprietária, junto com o marido Ivalini Fish, de 53 anos, de 107 mil pés de fumo, ela já partiu para a diversificação, plantando milho numa área de 7 mil hectares. Mesmo assim, para acabar com a cultura do tabaco "só se houver muita ajuda dos governos estadual e federal". Ela é a favor de mudar para outras culturas e acredita que o programa de apoio à diversificação vai contribuir para a diminuição, gradativa, da fumicultura. "O que não pode é parar, simplesmente com a produção do tabaco, porque eu não sei o que seria das pequenas propriedades familiares da região", afirma Maria, que também trabalha na lavoura com a filha Joseane e o genro, Valderi Ramos, ambos de 23 anos.
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