Venho através desta demonstrar minha indignação contra um atentado à história, não só minha como de tantos outros munícipes, veranistas, turistas, da história que faz parte do país e também é reconhecida internacionalmente! Tenho familiares residentes em Ubatuba desde que me conheço por gente e, mesmo morando em São Paulo, venho direto para estas terras que só me fazem bem desde a infância... Hoje, com meus 63 anos, com filhos criados e neta que ainda goza de sua infância, tenho imenso prazer de vir à minha casa em Ubatuba e ensinar aos meus a história que construiu o país... assim como meus pais me ensinaram, brincando e vivenciando... Ainda me lembro quando tomávamos sorvete na orla e sentávamos ao redor do Cruzeiro, que fica na praia de mesmo nome, areia homenageada pela importância histórica! Pois é símbolo do primeiro tratado de Paz da América Latina, citado em qualquer livro de história como a "A Paz de Iperoig", realizada em 14 de setembro de 1563. Aliás, cá entre nós, nunca entendi porque o município nunca comemorou uma data tão ilustre e única, da qual qualquer morador do país já ouviu falar. Lembro ainda as palavras de um tio que dizia: Nestas areias que estamos pisando, o jesuíta José de Anchieta ficou como "refém" enquanto Nóbrega foi tratar os últimos detalhes da Paz, mobilizado pela Confederação dos Tamoios, catequizando os índios e escrevendo o mais famoso dos poemas com cinco mil e tantos versos "A Virgem", hoje registrado em livro. E nós ali ficávamos imaginando a cena. E eu e meus irmãos ousávamos com um pequeno galho na mão, talvez tão pequeno quanto nós, desenhando nas mesmas areias e dizíamos: Agora também fazemos parte da história!!! Que alegria não tive quando vi retratada a cena que sempre imaginei, na imagem de Anchieta, nas mesmas areias onde outrora escrevera... E hoje, quando passo pela avenida e vejo os símbolos de nossa história estupidamente agredidos pelas obras, que sabe-se lá quando vão ser terminadas, o descuido e descaso com nossos monumentos (digo nosso porque pertence a qualquer cidadão), sem uma placa com uma explicação sequer. O ato apenas retrata um fato nesta triste atualidade: que os nossos governantes (nossos porque pago meus impostos nesta cidade) não percebem a importância do ato ao violentar os registros visuais da história do país e ao privarem seus filhos e os filhos da terra dos mesmos. E espero que não venha acontecer com outros monumentos que também expressam grande importância na história, mas que provavelmente passem por eles todos os dias e os "ignorem", talvez pelo significado da própria palavra. Fonte: jornal A Semana.
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