In qua urbe vivimus? Quam rem publicam habemus? O di inmortales! O tempora, o mores! Quo usque tandem abutere, Caesar, patitentia nostra?(*) Quando, afinal, atravessarás o Rubicão? O povo jurou-te lealdade, mas o tempo passou, ó magnífico Caesar, e até agora nada! Esconde-te entre as muralhas do palácio imperial e mandas o povo tratar com o jovem inexperiente e impulsivo cônsul Maurus Lepidus. Esse teu braço direito está gangrenando e, se não o amputares, ó imprudente Caesar, em breve não poderás nem sequer saudar o povo em tuas raras aparições em praça pública. Agora, se não é o teu braço direito quem te atrapalha, mas o teu olho míope - opera-te. Quem sabe assim, poderás ver melhor o povo que juraste resgatar. Cuidado, Caesar, os teus inimigos aninham-se como cobras mais dentro do que fora do palácio. Essas serpentes já colocaram seus ovos. Quantos serão os Cássios e quantos os Brutos que hão de apunhalar-te pelas costas quando menos esperares? Pegue o timão, não o Corinthians, por quem torcestes no tempo em que eras imperfeito, um mero mortal nos subúrbios desta urbe, mas o deste barco que ameaça soçobrar. Se não assumires o comando e vier o naufrágio, verás o quanto de ratos pularão na água e te abandonarão. O povo que te saudou nas ruas quando da tua entrada triunfal no dia da posse já está impaciente. Não aceita mais os privilégios que concedestes aos seguidores de uma única seita, quando são inúmeras as seitas existentes no império. Os seguidores da seita à qual te juntastes em ágapes, libações e locupletações são filhos da mesma divindade a que reverencias. Não condene as críticas dos escrevinhadores desta urbe. Servem à correção de rumo. Além disso, a liberdade de expressão é direito universal do homem e consagrado na constituição do império, ó desafamado Caesar! Mais devastadoras são as ações e omissões da tua guarda pretoriana e de teus cônsules. Maurus Lepidus, por remover uma árvore sagrada ao povo, jogou contra ti a ira dos povos nativos a quem prometestes resgatar. O povo não agüenta mais a carga tributária. Já perguntam sobre o que fazes com o dinheiro, além de manter a tropa de mercenários, cortesãos e comensais. Oh, desdourado Caesar! Agora resolvestes congelar as terras dos infelizes (sem uma solução em vista), dos pobres diabos que mal ganham para o sustento da família. Em nome de quê? A periferia desta urbe tem esgoto vazando nas ruas! Os pobres infelizes, a cada chuva torrencial, chafurdam na merda e na lama. Habemus saco, ó Caesar! (*) Em que cidade vivemos nós? Que governo é o nosso? Ó deuses imortais! Ó tempos, ó costumes! Até quando, Caesar, abusarás da nossa paciência?
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