A instabilidade econômica no Brasil, aliada ao real sobrevalorizado e à carga tributária, faz com que as empresas, principalmente do setor industrial, vivam numa luta constante pela conquista de novos mercados, tanto internos como externos. Isso se deve à ausência de uma política definida e voltada aos interesses dos setores produtivos. O cerco se fecha e está cada vez mais difícil competir - lá fora com uma indústria incentivada e, aqui, com os produtos importados. Os números da indústria brasileira em 2005 devem servir de alerta. Tradicionalmente, as indústrias brasileiras - quando o mercado interno estava desaquecido e o câmbio era favorável - tentavam cruzar fronteiras em busca de potenciais importadores de seus produtos. Geralmente, era uma decisão momentânea, que não implicava em planejamento prévio. Muitas vezes eram ações isoladas que não faziam parte do business plan das empresas. As exportações eram apenas oportunidades passageiras. Se o mercado lá fora se tornava desinteressante, voltava-se à carga no Brasil. Nos últimos anos, especificamente a partir da abertura promovida pelo governo Collor, as companhias estrangeiras passaram a enxergar em países emergentes potenciais consumidores de seus produtos. Isso forçou as empresas nacionais a modernizarem seus parques industriais para enfrentar a competição em igualdade de condições. A alta do dólar, acentuada no final da década de 90 e início do ano 2000 impulsionou esse processo de modernização. As empresas nacionais investiram mais de olho no potencial das exportações. Vender para o mercado externo se tornou uma forma de equilibrar os problemas encontrados no país, onde a perda do poder aquisitivo da população se tornou mais evidente, apesar da aparente estabilidade econômica proporcionada pela inflação sob controle. Mas o esforço esbarrou na ausência de uma política definida de comércio exterior. Apenas as empresas fizeram a sua parte e o cenário atual é de dúvida e desencantamento. Não sem motivo alguns setores estão promovendo demissões em massa. A queda sistemática do dólar, ou a sobrevalorização do real, como se queira, está corroendo a capacidade exportadora das empresas, sem que o governo procure mecanismos para estabilizar a moeda americana em níveis aceitáveis para a indústria nacional. A partir de meados de 2005, muitas indústrias começaram a diminuir a produção voltada ao mercado externo e, para cumprir contratos, muitos de médio e longo prazo, passaram a pagar para vender, numa equação que não se resolve no final do mês. Hoje, em que pesem os fantásticos números de superávit na balança comercial obtidos no Brasil nos dois últimos anos, sobretudo pela exportação de produtos de baixo valor agregado, a indústria nacional está deixando de vender lá fora. Muitas estão apenas enviando as encomendas feitas. Novos contratos são deixados de lado, já que não há qualquer garantia de que essas vendas se tornem rentáveis. O pior é que, ao voltar-se para o mercado interno, as empresas não vislumbram - em um curto espaço de tempo - o retorno do poder de compra da população. Ou seja, a indústria nacional fica sem ter para onde correr. A história não é nova. Estamos entrando em um novo ciclo perigoso. A “parada” é um dos primeiros passos para a volta da crise. Ainda é tempo de reverter esse quadro, mas é necessária uma ação imediata no sentido de proteger e estimular as empresas brasileiras. Nota do Editor: Eduardo Tavarez, gerente da Unidade Bicicletas da Levorin Pneus, é graduado em Engenharia pela FEI, com pós-graduação em administração e economia pela FGV e mestrado em administração de empresas pela USP. É professor da UNIP e consultor do Bureau Veritas do Brasil.
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