Uma parcela significativa das empresas de pequeno porte que conhecemos financia seus negócios exclusivamente com o uso de capital próprio, e deixam de lado as opções externas como empréstimos de bancos ou outras fontes. Várias destas empresas ostentam orgulhosamente sua condição de auto-suficiência financeira como um atestado de saúde e boa gestão. Expressões pitorescas do tipo "balanço limpo" ou "caixa saudável" não são incomuns e sugerem que esta atitude antiendividamento talvez não seja uma decisão consciente de estratégia financeira, mas um traço cultural do empreendedor brasileiro. Razões há para que a pequena empresa controle com muito cuidado suas dívidas e as altas taxas de juros brasileiras só enfatizam estas razões. O endividamento aumenta o risco do negócio, pois cria obrigações financeiras fixas que devem ser cumpridas independentemente da receita, que varia ao sabor do mercado e de outras forças. Isto aumenta a probabilidade de estresse financeiro, que pode eventualmente levar a empresa à crise ou mesmo à falência. Uma das fontes deste aumento vem do próprio mercado. Segundo pesquisa feita em 1994 com cerca de 46 mil empresas americanas, em períodos de desaquecimento econômico, as empresas mais endividadas perdem mercado para seus concorrentes e assim sofrem mais redução em sua receita. Empresas com índice de endividamento maior do que 40% tiveram aumento de vendas 13% menor do que as demais - para aquelas com endividamento maior do que 60% o aumento de vendas foi 26% menor que as demais. Estes efeitos foram verificados em empresas de todos os portes, mas tendem a ser mais críticos nas menores. Em teoria, em períodos de crise estas firmas tendem a tomar decisões que desagradam seus clientes e que os levam a abandoná-las, além de estarem mais expostas à ação oportunista dos concorrentes. Além disto, por darem informações menos completas e transparentes aos credores, recebem menos apoio da parte deles em momentos de risco. Mas há também razões a favor do endividamento, e a principal é o aumento do retorno do capital dos proprietários, ao contrário do que a crença comum apregoa na nossa economia de juros altos. Mesmo que as taxas de juros sejam altas, alguns projetos podem apresentar rentabilidade mais alta ainda. Se a empresa não dispuser de capital próprio para financiá-los, poderá fazê-lo com recursos obtidos via empréstimos e ainda assim ter um projeto lucrativo. A diferença entre o custo do financiamento e a rentabilidade do projeto ficará disponível para os proprietários da firma. O simples processo de seleção de projetos pela rentabilidade implica em disciplina administrativa que é sem dúvida um sinal de saúde da firma. Sem esta disciplina, a firma seleciona projetos segundo outros fatores menos benéficos para seu próprio futuro. Razões a favor e contra demonstram a necessidade de se encontrar o equilíbrio certo entre capital próprio e de terceiros, e esta é uma das tarefas mais importantes de qualquer gerente financeiro. Ela o obriga a ter um bom grau de controle que inevitavelmente permeia toda a administração. Controle e disciplina não fazem mal a ninguém, ao contrário, robustecem a empresa e a preparam para os tempos difíceis, e desta forma o financiamento externo pode ser visto como uma vacina. Se não for usado ou for usado em excesso, a empresa estará menos preparada. Uma administração financeira competente, que faz bom uso de todas as opções disponíveis para financiar seus negócios e projetos não deve ser motivo de vergonha, mas sim de orgulho por parte das empresas e seus proprietários. Nota do Editor: Lúcio de Moura Neto, direto da Evolve Gestão.
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