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Ano 2 - Nº 18 - Ubatuba, 14 de Março de 1999
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· Águas pluviais, uma coisa séria
    João Claro da Rocha - "Rochinha"
    articulista@ubaweb.com

 

Ubatuba nasceu privilegiada: tem mais de 2.850 nascentes cadastradas. Consequentemente tem o mesmo número de calhas condutoras do precioso líquido. É pena que os homens tenham diminuído, mutilado ou consumido nossos riachos e rios. Parece que, com o decorrer do tempo, os rios tenham diminuído seus volumes d'água, todavia, as chuvas continuam com a mesma intensidade e sempre continuaremos sem saber quando virá em maior volume.

O aterro das bacias, lagos, depressões, banhados e áreas non aedificandi tem diminuído a capacidade dos depósitos, das infiltrações das águas e, com as construções e impermeabilizações do solo, ficaram reduzidos seus espaços ocasionando um aumento da velocidade das águas em direção aos rios, canais, lagos etc. Em Ubatuba, todos os focos de enchentes tem a mão do homem incompetente ou irresponsável, talvez ambos.

Ubatuba merece o nosso amor. É preciso conter essas barbaridades. Benedito Leandro Nunes, no passado, contestou as obras do aeroporto em que foram utilizadas linhas de tubos de bitolas insuficientes. Eu e Nhô contestamos a BR-101 com seus aterros, com suas linhas de tubos e galerias, como as que foram feitas no rio Acaraú. Eu contestei a ponte de acesso ao loteamento Sítio da Ressaca e várias outras linhas de tubos e pontes, bueiros e canaletas que não condizem com o volume das águas.

Aeroporto Gastão Madeira - Foto: © Paulo Roberto de Moraes

Em todas as obras que hoje são focos de enchentes, houve negligência dos prefeitos, vereadores, e técnicos, não só do município, mas também do Estado e da União. Mas como no município quem manda é o prefeito e seus técnicos, eles são os grandes culpados por estes problemas e suas conseqüências. De acordo com as datas das obras, se for feito um levantamento, todos conhecerão os culpados.

É interessante observar que na BR-101, no Rio Acaraú, até hoje, foram três as vezes em que fizeram serviços de reparos e, mesmo assim, continua uma vergonha. As pontes do Rio Acaraú precisam ter de 15 a 16 m de vão livre. A maior delas tem 5 m, na rua Capitão Felipe. Na rua Basílio Cavalheiro, porém, tem 4 m, local em que já recebe um maior volume de água. Na BR-101, a primeira obra realizada foi uma galeria de 2,10 m por 2,05 m; na segunda, mais duas linhas de tubos de 1,40 m e na terceira obra, uma linha de tubos de 1,40 m. Isso é brincar de técnicas fajutas!
Aos bons técnicos devemos recorrer, admirá-los e respeitá-los; aos maus, a minha decepção. Mas Ubatuba ainda tem solução. Isso enquanto não fizerem obras às margens dos rios que precisem, no futuro, serem indenizadas. Contudo, infelizmente, tem político querendo permitir que sejam construídos prédios com até oito andares. A hora que tivermos um prédio desses em cada margem dos rios, aí é que a vaca vai pro brejo e as inundações serão como as de São Paulo e Rio de Janeiro.

São Paulo hoje, por erros do passado e recente, faz obra tapa olho, como os piscinões e outras tapeações e o povo paga pelos erros de mais de 400 anos. Ubatuba não pode mais aceitar obras como as do aeroporto, que deveria ter um canal de 2,50 m por 1,20 m, mas que tem tão somente uma linha de tubos de 0,80 m. Temos vários riachos reduzidos a bueiros de 0,80, 0,60 e 0,20 m. Isso é inacreditável! Eis os nomes de riachos destruídos ou confinados em tubos: riacho dos Lourenços, no bairro do Perequê-Açú e mais um afluente do rio Indaiá. No bairro do Itaguá, o rio do Zé Pinho, do Antonio Pedro e do Albino. No Tenório, o rio da Tia Chica, na Praia Grande, o rio do Vellozo. No bairro das Toninhas, os rios Jacundá e o do Raimundo e no bairro da Enseada, o rio do Luiz Tatana, o do João Vitório e o do Manoel Bastos. Essas mutilações de riachos e rios ocorre em todo o município. Aqui, na baía da cidade, deságuam o rio Grande, o rio Lagoa, o rio do Zé do Pinho, do Antonio Pedro, do Albino e o rio Acaraú. Todos estão mutilados e poluídos! É pena que nossos mandatários e legisladores não arredem uma palha para desobstruí-los e despoluí-los. É pena que alguns dos nossos vereadores contribuam com a mutilação e a poluição. É assim que estamos criando focos de enchentes e de poluição em nosso município. Este é o meu alerta e o meu puxão de orelhas.

PS: É indispensável que se faça um quebra-mar nos canais e linhas de tubos que conduzem as águas para as praias.

Nota do Editor: João Claro da Rocha, o seu Rochinha, é daquelas louças raras de única fornada. Poderia arriscar em dizer que suas três paixões sãos: os filhos, Ubatuba e o Palmeiras.

Mestre de obras, de reconhecida competência pelos entendidos da construção civil, tudo o que amealhou na vida foi às custas do seu trabalho. Um homem forjado em princípios severos de honestidade. Creio que tenha sido um incômodo para muita gente nos anos em que trabalhou no serviço público, na prefeitura municipal, vistoriando obras e outros serviços nesta nossa urbe.

Sou amigo de dois de seus filhos, desde a infância, e tive o privilégio de ter freqüentado seu lar para conhecer o pai carinhoso e o respeito que sempre lhe dedicaram os filhos. Poder-se-ia dizer que o Rochinha é um homem realizado, não fossem os rumos que a nossa querida Ubatuba tem tomado.

O alerta que ele faz aqui, não é de hoje que vem fazendo. Esta tem sido uma bandeira de longa data. Tanto ele fala nessas questões das águas plu e fluviais que, quem não o conhece bem, tem-no por um tresloucado, um chato. Na verdade, é o que todos nós deveríamos ser quando o que está em jogo é o bem estar e a qualidade de vida da população nesta cidade de nossos ancestrais.Fim do texto.
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