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Ano 2 - Nº 18 - Ubatuba, 14 de Março de 1999
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· Violência
    Homero B. Ottoni Netto
    hbon@uol.com.br

Ouvi, amargurado, a entrevista levada a efeito por um repórter inconveniente e impertinente de uma rádio paulista, com o pai de uma pobre jovem que foi assassinada barbaramente por dois marginais.

Com cinco filhos e dez netos vejo cada vez mais cinzento o horizonte da humanidade.

Surpreendentemente controlado em face da dor que o afligia, o arrasado pai conseguia responder às perguntas insistentemente inconvenientes, que visavam obter dele uma manifestação comovente e chocante, com uma visão ampla e universal do problema, examinando o seu problema pessoal como parte de um fenômeno internacional.

Garotos matam nas melhores escolas americanas, quando os índices de bem estar nunca alcançaram níveis tão altos; a cultura da violência foi vista, ao vivo e a cores, durante a realização da mais festiva e popular competição do planeta.

A morte violenta é banalizada pela mídia, no afã de vender más notícias.

Avião voando não dá notícia.

Acidentado, vende jornal e publicidade no rádio e televisão.

Hoje, com os avanços da tecnologia da comunicação, podemos ver imediatamente tudo que ocorre no mundo.

A comunicação intensa e constante leva para dentro de lares paupérrimos uma publicidade rica e baseada num modo ideal de vida farta de alimentos, roupas, carros, barcos, bebidas etc.

A realidade veda o acesso dessa imensa maioria de miseráveis, pobres e remediados àquela vida maravilhosa.

Quando um garoto pobre mata para roubar um tênis daquela marca famosa talvez esteja querendo viver o anúncio publicitário.

Vale tudo para alcançar o sucesso num mundo onde V. é aquilo que V. aparenta ser.
 

Ilustração de Tomie Othake

Afirma-se que os baixíssimos índices de criminalidade nos países onde não há mídia privada estaria ligado à comunicação limitada a órgãos oficiais, sem publicidade.

Países miseráveis como Índia apresentam índices insignificantes de criminalidade violenta graças à inexistência dessa publicidade intensa e massificante.

Uma coisa é certa: não será a modificação do efeito, isto é, a sanção penal, que eliminará, ou mesmo atenuará, a causa desse fato social que é o crime.

Muito menos os exercícios de "sociologia de almanaque capivarol" praticados por uma parcela enorme da comunidade de jornalística.

Talvez uma reestruturação do quadro social injusto e cruel em que vivemos fosse o caminho.

Mas isso é coisa de políticos, circunstância que não nos permite muita esperança.

Nota do Editor: a ilustração apresentada no artigo foi feita pela artista Tomie Othake para a Campanha contra a violência intrafamiliar da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e das Agências das Nações Unidas do Brasil. Visite a homepage: http://www.opas.org.br/viole/index.htmFim do texto.
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