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Crônicas
20/03/2004 - 20h19
Azul marinho: história e sabores
Eliana de Oliveira
 

Os caiçaras mais velhos costumam dizer que são mais "fortes" dispostos que os jovens de hoje, que no tempo deles a alimentação era outra coisa e não "essas coisas enlatadas de supermercados". Sem dúvida, estão certos em relação à qualidade de sua alimentação original: substanciosa e saudável.

O azul marinho, por exemplo, conhecido prato típico de Ubatuba, surgiu, segundo algumas teorias, da disponibilidade e abundância dos seus componentes: peixe, farinha de mandioca, bananas e condimentos (coentro e tomatinho cereja) e é muito nutritivo. A banana é muito rica em carboidratos, a mandioca (farinha) contém vitaminas, essenciais aos olhos, pele e cabelos, o peixe, rico em proteínas e fósforos e o coentro possui grande quantidade de vitamina A, essencial também aos olhos. Enfim, uma combinação energética, nutritiva e saudável. É claro que a abundância em Ubatuba das bananas "nanica", "naniquinha" e "são tomé" (típicas para o preparo do prato), de farinha de mandioca e de peixes, como garoupas, xaréus, cavalas, carapaus etc. colaboram em muito para a famosa junção de sabores. Há também que se levar em conta a escassez da variedade de alimentos (do tipo enlatado ou beneficiado) na Ubatuba de antigamente, devido as dificuldades naturais de transporte e a inexistência dos famosos armazéns nos locais mais distantes como praias e sítios para atender as comunidades.

O que restaria aos caiçaras, mais propriamente às mulheres, sempre com considerável número de filhos para sustentar? A criatividade. Na verdade não se sabe ao certo como se chegou à criação do azul marinho, exceto pelo fato de a nódoa de banana verde dar um tom azulado ao caldo da fervura, a que se atribui o nome, e que se deva descascar a banana em água corrente para que não fique escura prejudicando o sabor.

Por outro lado, também não se tem registro de como se chegou ao costume de servir mandioca, cará roxo, batata doce e milho cozido ou assado com café que, aliás, eram e são excelentes complementos e substituíam com distinção os tradicionais "pão com manteiga e café com leite". A falta do açúcar refinado dava lugar ao delicioso café de cana (feito a partir do caldo de cana fervido e usado em lugar da água), de gosto característico e forte.

Do caldo da mandioca prensada para fazer a farinha se fazia (e se faz ainda hoje) os famosos biscoitos chamados "biju", tipo de sequilho, que é assado na própria chapa do forno de farinha.

De qualquer forma, assim era criada uma dieta apropriada e rica, guiada pela força da criatividade, do apetite e da disponibilidade dos elementos naturais. Com certeza, todo este comportamento segue influências diversas, tanto dos índios habitantes originais, quanto européias, dos escravos e de outros colonizadores de várias regiões que por aqui estiveram.

Segue ritos e observações próprias, mas, o resultado de qualquer experimento é sempre uma outra concepção e por isso é sempre novo, único e original.


Capítulo à parte: o coentro (de folha larga...)

Notável é como este arbusto se alastra pelos quintais, em rebeldia, exalando seus odores.

Tempo perdido é tentar replantá-lo! Não digo quer seja impossível, mas é quase... Depende da mão..., tem que ser de pessoa boa, que tem amor na planta, se for curioso só, não dá certo! A touceira é bonita: flores brancas para cima, cercadas de folículas de espinho e junto ao chão as folhas em círculo, embaixo as maiores e, as pequenas, recém-nascidas, em cima, todos eles bons de cheiro e de gosto! Habitam praias e quintais, convidando ao famoso pirão, enroscando-se pelos pedaços de peixe e bananas, a fervilhar em antológicos fogões de lenha, que a exemplo da minha história de caiçara norteia muitas outras, naquela infância onde os sabores, os cheiros, as risadas e um pedaço especial do mundo ficaram para sempre guardados.


Nota do Editor: Eliana de Oliveira nasceu em Ubatuba e estreou a mostra de seus trabalhos aos 15 anos integrando o grupo poético "Rumos e Rimas". Foi gerente do Grupo Setorial de literatura da Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba) por 3 anos, editando a primeira antologia de contos do Concurso de Contos Washington de Oliveira, o qual idealizou. Tem vários trabalhos publicados em jornais e revistas da região.
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