Cruel e sem rodeios, Nenê Velloso publica os artigos “Construindo o passado II”, rotulando a família Oliveira de responsável pela estagnação de Ubatuba no período de 1908 a 1947. Em que pese a admiração que temos pelo ilustre e corajoso caiçara, registro, em nome da verdade, alguns reparos que de longe em nada modificarão o conteúdo do articulista.

A família Oliveira foi fruto da oligarquia que imperava no Brasil, já advinda do Império e posteriormente seguindo pela República Velha [1889-1930], ditadura de Vargas, República Nova e resquícios ao final do século XX com a ditadura militar dos anos de chumbo. O império dos Oliveiras nasceu com a República Velha, sobrevivendo à ditadura de Vargas, tudo por injunções políticas a serviço do poder maior. O governo central precisava ter caciques na forma de capachos em pequenas cidades para manter a oligarquia, e os Oliveiras nada mais foram que serviçais do poder central, satisfeitos com os pequenos títulos que receberam, Coronel, Capitão, Rábula (advogado sem título), Promotor.

Dominaram uma cidade em plena decadência após a abolição da escravatura, abertura da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, da Central do Brasil, da falência da Estrada de Ferro Taubaté-Ubatuba, ficando aqui tão somente velhos comerciantes falidos e poucos funcionários públicos dos quais a família Oliveira já começava a despontar como ocupantes de cargos arranjados.

Essa aparente intrincada forma de governar tinha seu respaldo nas constituições de 1891 [Império], 1894 [República], 1934 [Vargas], 1937 [Nova República], 1946 e 1947, somente vindo a cair por terra definitivamente a partir da Constituição de 1988, já com a democracia plena do país. Essas primeiras constituições garantiam o voto aberto, a nomeação dos intendentes e prefeitos pelo Presidente da Província, depois Estados, e outras manobras rudimentares de administração pública e de como exercer política.

Daí a razão pela qual descer a madeira nos Oliveiras se não é injusto, pelo menos merece cautela, mesmo porque se não fossem eles os representantes das oligarquias, seriam outros, mais ou menos atrasados culturalmente, como foram na maioria das cidades brasileiras. Servir ao poder central sempre foi atração irresistível, principalmente para as classes menos favorecidas mas que sempre almejavam ascensão social e política e com eles não poderia ser diferente.

Das páginas do Nenê Velloso, extrai-se, de imediato, a percepção do ódio que nutria pelas perseguições que sua mãe sofreu após ter enviuvado. Foram muitas, covardemente perpetradas em nome de seu pai que já havia morrido. A de minha família não foi nada, graças ao seu Felix que soube por ordem no galinheiro logo de início.

Reparo nos artigos do Nenê merecem somente esse registro. Os Oliveiras foram à época exatamente o que seriam outros que porventura tivessem açambarcado o poder. Foram o que a história lhes reservou. Truculentos, aproveitadores, inescrupulosos.