| Lívia respira aliviada ao ver Gilda entrar no restaurante.- Até que enfim! O que houve?
 - Problema no escritório. Já resolvi. Fala, o que tanto você quer me contar?
 - Estou apaixonada.
 - E quem é o felizardo?
 - O Pereira.
 - QUEM?
 - Pe-rei-ra!
 - Mas logo o Pereira?
 - A gente escolhe por quem se apaixonar?
 - O homem é marido da sua mãe!
 - Estou fissurada nele. É paixão. Das boas.
 - Ele sabe? Sua mãe? Seu irmão? Alguém desconfia?
 - Acho que não. Me insinuo quando estamos sozinhos mas ele finge que não vê.
 - Sinal de que é fiel à sua mãe.
 - E existe homem fiel no mundo?
 - Existe, o Pereira.
 - Pois vamos testar a fidelidade dele. E para isso, preciso da sua ajuda.
 - Ah, não! Vai me colocar no rolo?
 - Escuta: sábado que vem, minha mãe vai dar uma festa no terraço lá em casa para comemorar os 50 anos do Pereira.
 - E onde eu entro nisso?
 - Vamos dar um porre no Pereira e levá-lo para o meu quarto. O resto é comigo.
 Gilda achou a idéia absurda. Mas Lívia convence a amiga a participar do plano mirabolante. Depois de todos os detalhes combinados, a excitação de Lívia aumentou. Nem dormia direito. Só pensava no momento em que teria o homem amado nos braços. Em casa, só se falava no aniversário do Pereira. Lívia chateou-se, quando, dois dias antes da festa, a mãe chegou da rua acompanhada de Ricardinho, com uma bolsa de compras. Curiosa, perguntou:- Que sacola é essa, mãe?
 - O presente do Pereira.
 - Pô, eu falei pra senhora que queria ajudar a escolher.
 - Ah, minha filha, seu irmão tem muito bom-gosto. Roupa de homem é melhor deixar com Ricardinho.
 Na hora do jantar, com a família reunida, Lívia notou que Ricardinho era o centro das atenções e ajudava na organização da festa.- Esse bufê que a senhora encomendou é bom mesmo, mãe?
 - É o mesmo bufê do aniversário da sua tia.
 Agitados, toda hora, Ricardinho e a mãe conferiam a lista de convidados.
 - Vê se eu chamei a sua tia Nely.
 - Chamou, tá aqui, ela, o tio e as primas.
 - E a vó, vem? - perguntou Ricardinho.
 - Claro. Sua vó fez 90 anos e está com uma saúde de ferro.
 Lívia percebia que a mãe preferia o irmão. Por isso - pensava - "será uma grande vingança ir pra cama com o Pereira". Contrariando a meteorologia, no sábado, o céu amanheceu azul, deixando a família aliviada. O movimento em torno dos preparativos foi grande o dia todo. Os garçons aprontaram-se meia hora antes da chegada dos convidados. Assim que Gilda apareceu, Lívia foi falar com ela.- Já dei três copos de cerveja para o Pereira. Mas ele precisa beber mais.
 - Tem certeza que você quer levar essa maluquice adiante ?
 - Tenho.
 Gilda grudou em Pereira para cumprir sua parte no trato.- Bebe, Pereira. É vinho. Peguei pensando que era suco de uva.
 O plano parecia encaminhado. Pereira misturava vinho, cerveja e batida. Tonto, foi praticamente arrastado por Gilda, para o quarto de Lívia.
 - Fica aí. Não sai. Tem uma pessoa querendo falar com você.
 Correu para chamar a amiga:
 - Anda, vai lá antes que o homem fuja! Oportunidade única.
 Quando Lívia chegou, encontrou a mãe e Pereira discutindo. Ia sair, mas Pereira segurou-lhe o braço e com ares de embriaguez exigiu:- Fica. Sua mãe quer falar com você. Está na hora de saber da verdade.
 Ficaram sozinhas e a mãe foi direto ao assunto:
 - Eu e Pereira percebemos que você se insinua para ele descaradamente. Ricardinho quem nos alertou.
 - Sempre Ricardinho. Aconteceu. Fazer o quê? Eu quero o Pereira pra mim.
 A mãe deu uma risada nervosa.
 - Impossível, minha filha! Esse amor é impossível! Esquece o Pereira.
 - Esquecer? Eu o amo! E lutarei por ele.
 - Não adianta lutar. Nunca desconfiou? Pereira e seu irmão são amantes!
 - Nãoooo, isso é mentira! Diz que é mentira! Diz, sua louca!
 Lívia viu o quarto rodar. Parecia ter levado um soco na boca do estômago. Se jogou na cama, enquanto a mãe falava numa compulsão sádica.- Os dois se amam! São AMANTES! E eu apoio esse amor.
 - E por que se finge de esposa apaixonada?
 - Ricardinho tem medo de não ser aceito pela nossa família religiosa e cheia de preconceitos.
 Ensandecida com a revelação, Lívia repetia as mesmas palavras toda hora:- Pereira e Ricardinho são amantes! Se beijam na boca. Que nojo!
 A mãe se aproximou para tentar consolá-la. Lívia a rejeitou.
 - Sai daqui, cúmplice! Vai representar o seu papel de esposa perfeita!
 Uma hora depois, Lívia decidiu ir ao terraço. Encontrou a família reunida cantando parabéns e fazendo brincadeiras com o aniversariante.- Com quem será, com quem será que o Pereira vai casar.
 Assombrada, voltava para o quarto, quando esbarrou no garçom. Um arrepio de prazer percorreu-lhe a espinha.
 - Como é o seu nome?
 - Álvaro.
 - Vem comigo.
 - Senhora, por favor, tá na hora do bolo, tenho que servir.
 - Que bolo o quê! Seu colega se vira!
 Puxou o garçom para o quarto e trancou a porta.
 - Dona, eu não sei o que a senhora tá querendo, vou ser demitido.
 Tirou a roupa e passou a mão pelo corpo diante do olhar surpreso do garçom.
 - Sou gostosa?
 Álvaro abaixou a cabeça sem jeito.- Responde. Anda! Você é um homem ou uma ameba?! SOU GOSTOSA?
 - Ééeeee!!!
 - Então, vem, sirva-se!
 Rolaram na cama. De repente, Lívia parou, apagou a luz e fez biquinho.
 - Posso chamá-lo de Pereira?
 Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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