| Sete da noite. Margareth chega do trabalho, joga as sandálias no chão, fica de sutiã e calcinha, olha o relógio, pega o telefone e liga para o trabalho do namorado.- Carlos, sou eu! Ainda tá aí?
 - Estou de saída. Tenho prova na faculdade.
 - Tá trabalhando demais, hein! – ironizou.
 - O que eu posso fazer? É o jeito. Tudo bem com você?
 - Estou com saudade.
 - Eu também. Bom, depois a gente se fala, deixa eu ir, tô atrasado.
 - Antes posso lhe fazer uma pergunta?
 - Claro.
 - Você me ama?
 - Hein?
 - VOCÊ ME AMA?
 - Margareth, estou com a cabeça cheia de problema e você me vem com perguntazinha fora de hora? Agora, não.
 - O que custa responder? Basta dizer sim ou não.
 - Se estamos namorando, o que você acha?
 - Quero ouvir de você.
 - Se eu não gostasse, não estaríamos juntos.
 - Não falei gostar. Falei amar.
 - Depois a gente fala sobre isso. Deixa eu ir.
 - Tem alguém aí do seu lado?
 - Não, tô sozinho. Todo mundo já foi.
 - Então, qual o problema em dizer? Ama ou não ama?
 - Você nunca me fez essa pergunta. Preciso pensar.
 - Pensar?
 - O momento não é apropriado. Você me pegou de surpresa.
 - Tá, então eu vou mudar a pergunta: o que você sente por mim?
 - Gosto de você.
 - Só? Pensei que me amasse. Estamos juntos há um ano.
 - O amor vem com o tempo. Primeiro a gente gosta.
 Margareth interrompe Carlos, irritada:- Você está me enrolando. Primeiro não quis responder se me amava. Agora diz que gosta, mas sem muita convicção.
 - Margareth, não é hora para discutir relacionamento. Se eu chegar atrasado na faculdade, não faço prova.
 O celular de Carlos toca.- Atende, Carlos. Escutei seu celular. Deve ser a outra.
 Ele não atende. Desliga o celular.
 - Que outra?
 - Não seja sonso. A outra namorada.
 - Pronto. Desliguei. Não tem outra nenhuma.
 - E quem era?
 - Sei lá, não atendi.
 - Não viu o número?
 - Mensagem de operadora.
 - E precisava desligar?
 - Se eu ligar o celular, a operadora vai me ligar e eu vou ter que atender.
 - Tá. Vou acreditar. Confio em você.
 - Até que enfim! Então deixa eu ir. Depois a gente se fala.
 - Antes custa responder: você me ama?
 - Amo, Margareth. Amo.
 - Bom ouvir uma declaração tão espontânea - debochou.
 Carlos ignorou a ironia e se despediu com um beijo. Depois, fechou o escritório e desceu os três lances de escada, apressado. Quando chegou na portaria, Carol esperava por ele.- Demorou. Estou aqui há quase meia hora!
 - Deu problema na impressora.
 - E precisava desligar o celular na minha cara? Por que você não atendeu?
 - Esbarrei sem querer.
 - Vou fingir que acredito na desculpa esfarrapada.
 - No bar de sempre, Carol?
 - Sim, adoro o chope de lá. Posso lhe perguntar uma coisa?
 - Pode.
 - Você me ama?
 Carlos respirou fundo e antes de responder pensou que no fundo era um romântico incorrigível, por querer fazer duas mulheres felizes, ao mesmo tempo. Olhou para Carol, deu um sorriso misterioso e murmurou:- Amo, Carol. Amo.
 - Muito ou pouco?
 - Muito!
 Carol apertou o braço do namorado e deu-he um beijo carinhoso no rosto. Caminharam em silêncio até o carro. A noite estrelada, prometia. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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