Compelido, depois de mais de ano, a escrever novamente, procuro identificar a razão desse impulso, chegando a algumas conclusões, quiçá corretas. A primeira delas refere-se aos longos anos em que me dediquei a escrever para a Folha de São Paulo como correspondente contratado para cobrir o Litoral Norte, impactado pela implantação da rodovia Rio-Santos. Assisti toda essa região sair de seu estágio cultural puro para se transformar em cidades contaminadas por culturas alienígenas, nem sempre das mais promissoras, mas certamente modificadoras do que existia no local. A segunda razão, esta mais iminente, seria o momento atual, as vésperas das eleições municipais para o Executivo e Legislativo, quando toda a sociedade entra em efervescência. A terceira, seria a fusão das duas razões, procurando tirar delas uma reflexão que ficaria a disposição de quem quiser concordar ou discordar.

Observando qualquer cidade do interior, o movimento político nesse período eleitoral se cinge a candidatos novos, filho dos velhos políticos de até então, ou quando muito, de um cidadão saído do anonimato, mas popular dentro da comunidade. São comerciantes, fazendeiros, médicos, advogados, funcionários públicos, todos componentes do extrato social sedimentado há muito ou jovens aspirantes filhos desses senhores. Aqui não. A classe política, na sua maioria, é formada de jovens, nem sempre muito jovens, oriundos de outras cidades, que para aqui vieram em busca de melhor condição de vida, embora desqualificados profissionalmente.

Este raciocínio está longe de ser interpretado como bairrismo, xenofobismo ou qualquer outra forma de reserva social, mas coloca esta realidade como base estrutural para uma análise da situação política que nos envolve há mais de trinta anos.

O candidato a homem público, principalmente em Ubatuba, que certamente dado a sua quantidade e aos meios utilizados para se eleger – voto de seus conterrâneos, irmãos de igrejas evangélicas e apaniguados – se revezam ocupando os cargos eletivos da cidade, deixando ao largo aquela paixão dos homens públicos de outras paragens, para atender seus interesses e dos seus. Desta assertiva vemos o resultado escancarado. Arrumam suas vidas, se submetem a todos os tipos de suborno se preocupando tão somente com a atuação do Ministério Público, de uma forma ou de outra, órgão que põe um freio se não pela atuação, pelo menos pelo medo. Para tirar esta nítida conclusão basta tão somente procurarmos nos homens públicos ou candidatos a ele sua profissão. Será difícil, muito difícil, encontrar um homem de profissão definida, candidatar-se a qualquer dos cargos eletivos. Sabe por que? A chance de ganhar é mínima.