Recebi, no Ano Novo, um telefonema de uma amiga que não vejo há mais de 40 anos. Ela está em Sampa, nunca voltou e também nunca fui lá, mas nunca deixamos de nos corresponder, por telefone e às vezes e-mail (não uso Zap e nem Face). Essa amiga me chama de Bicho do Mato. Ela tem razão, realmente sou alguém meio estranho. Fui sempre dissidente, contra-corrente, empata-samba. Vejam bem, não consigo ser patriota, falo desse patriotismo sazonal. Não, não faço cabriolas patrióticas, não me enrolo em bandeiras, não bato panelas, não grito slogans e não visto camisas políticas. Detalhe: sou um esquerdista atípico, detesto camisas vermelhas, também verdes ou amarelas. Não sei cantar o hino nacional, nem me rasgo na copa do mundo. Não pertenço a nenhum clube social, sinto repulsa por todos, principalmente por aquele que meninas não entram. Também não sou religioso, não frequento igrejas nem templos. Mas rezo como Jesus ensinou, sozinho e com a porta do quarto trancada. Durante algum tempo usei gravata porque era obrigado pelo banco, depois que aboliram toquei fogo na gravata. Aposentado não uso camisa de manga comprida, só camisa de meia, não uso calça comprida, só bermudas, e nos pés só sandália e chinelo. Não compareço, pois, a nenhum tipo de solenidade. Não sinto falta. Sou mesmo um bicho do mato. Assumo. Inté.
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