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Opinião
27/01/2021 - 05h30
As lágrimas da ave de Minerva
Dartagnan da Silva Zanela
 

Conhecer a verdade, seja ela graúda ou pequenina, é sempre um testemunho solitário, mesmo que estejamos no meio de uma multidão. Por essa razão, ela, a tal da verdade, muitas vezes nos assusta ao ponto de virarmos nossas costas para ela, acreditando que estamos fazendo um baita negócio com esse gesto covarde.

A tememos porque temos nosso coração atravessado de ponta a ponta pelos dardos da vaidade e da soberba.

Nossos olhos veem, nossa consciência canta, mas nossa vontade, maculada pela inflamação pustulenta dessas feridas nada originais, a nega. Nega a verdade e, junto com ela, a liberdade nas suas mais variadas formas de manifestação.

Das liberdades, a primeira que, frequentemente, abrimos mão é a liberdade de pensamento, junto com a de expressão. Se não posso dizer o que penso, com o tempo, deixo de pensar no que poderia dizer, calando de vez meus lábios e cerrando as portas da mente.

No fundo, que não é tão fundo assim, boa parte das pessoas não está nem um pouco preocupada com isso porque, o que as mesmas entendem por liberdade de expressão e de pensamento, seria tão somente a tranquilidade de poder repetir os pensamentos e opiniões que foram expressos por alguém e que, de certa forma, lhe pareçam agradáveis ao seu paladar mental, num dado momento.

Não há nada de errado em repetir o que outros disseram a respeito de algo, ou sobre alguém. Na verdade, tudo o que acreditamos pensar com nossos próprios miolos já foi a muito matutado por alguém. Aliás, é muito gratificante descobrirmos que certas ideias que acreditávamos terem sido elaborados por nós já faram a muito pensadas por pessoas muitíssimo mais aquilatadas do que nos outros. É massa pra caramba.

A encrenca começa quando simplesmente aderimos a algo por termos a sensação de que estamos certos sem, é claro, nos arriscarmos na aventura de confrontar essas ideias, que passamos a chamá-las de nossas, com outras ideias e, principalmente, defrontar todas elas com os fatos, para corrigirmos possíveis equívocos que se fazem presentes nas mesmas e que, por sua deixa, passaram a habitar a nossa alma.

De um modo geral, ideias próprias e opiniões pessoais são expressões refinadas de um ego inflado e vaidoso. Sempre foi e sempre será, mesmo que as mentes criticamente críticas digam o contrário.

E, assim o é, porque o que realmente importa não é termos uma opinião [compartilhada por muitos] só para dizer que é nossa, nem portarmos uma ideia [supostamente original] que, sem muita originalidade, encontra-se repetida em cada esquina virtual.

O que realmente interessa é o conhecimento da verdade, a procura incansável por ela e, é claro, a humildade, indispensável, para aceitá-la por inteiro, mesmo que ela condene tudo aquilo que até então considerávamos acertado.

Resumindo a encrenca: termos um punhado de opiniões, elaboradas e expressas com alguma elegância, não tem valor algum se essas não brotaram dum sincero desejo de conhecer a verdade. Sem isso, nossas palavras tornam-se vãs.

Obviamente, não podemos, nem devemos exigir que os outros cultivem tal ânsia em seus corações, muito menos devemos cogitar a criação de instituições e entidades para verificar se alguém está expressando-se com sinceridade intelectual para depois rotulá-la disso ou daquilo, pois, tais mecanismos, institucionalizados ou difusos, são simplesmente uma forma elegante e dissimulada de censura.

Aliás, todo censor sempre diz que está calando o outro para reestabelecer a verdade, porque o outro é um reles propagador de Fake News ou dalgo que o valha.

O que podemos e devemos fazer é agir com essa motivação, procurando obstinadamente a verdade, verificando e contrapondo todas as opiniões que nos chegam, bem como todas aquelas que emitimos; confrontar todas as ideias, pontos de vista e, é claro, fazer todas essas coisas encarar a dureza dos fatos – sim, dos fatos - para medirmos e pesarmos de forma justa e equilibrada tudo aquilo que permitiremos adentrar os umbrais da nossa alma.

Aliás, tamanha é a leviandade com que lidamos com essas coisas que, com grande frequência, muitíssimas pessoas se mostram incapazes de diferenciar uma mera opinião de uma ideia e essas de um fato. E não adianta insistir na importância que há em diferenciar alhos e bugalhos porque, de um modo geral, o que tais pessoas querem não é conhecer a verdade sobre nada, o que elas unicamente desejam é ter alguma coisa para dizer nas horas vagas de suas vidas vazias. Só isso e olhe lá.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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