Meu pai aprendeu a dirigir, teve uma caminhonete e um caminhão. Meu avô Sebastião, pai dele, nunca dirigiu, se deslocava para todo lado em canoas que ficavam na Praia da Frente embaixo dos chapéus de sol, de boca pra baixo.

Certa vez meu pai comprou um motor para uma das suas canoas, mas dava um trabalho danado, pois toda vez que ele usava tinha que trazer pra casa, não podia ficar lá na praia, havia o risco de roubarem, era uma novidade.

O motor ficava no quintal, preso num barril cheio de água e de vez em quando ele precisava ligar, para não estragar, era uma alegria pras crianças, um barulho que só!

Um dia presenciei uma conversa entre meu pai e meu avô, ele falou:

- “Pai, compra o motor que o seu Zizinho está vendendo, o preço está bom e mais cedo ou mais tarde o senhor vai precisar, daqui à pouco não vai ter quem ajude a remar na canoa...”

Meu avô “amarrou” a cara e respondeu:

- “Eu não vou viver pra ver esse tempo em que não vai ter quem ajude a remar uma canoa!”

Isso nunca saiu da minha lembrança.

Meu pai morreu em 1969, meu avô em 1973 e hoje 2021, posso falar sem medo de errar:

- Eu também seu Sebastião, não vou ver esse tempo em que a gente não vai ter quem ajude a remar na canoa, aqui se eu quiser posso remar até numa canoa polinésia... chique meu bem!