Estou cansado, muito cansado desta monotonia. Hoje é domingo, segundo a folhinha. Mas para quem, como é o meu caso, está num retiro forçado, isolado porque sou idoso e asmático crônico e (faixa de alto risco), sem poder dar uma escapada, todo dia é domingo. E domingo chato. Que diferença há dos demais dias? Nenhuma. Vejam bem, não fosse a família, os amigos, o vício de escrever e de ler livros, já teria entrado em depressão. Sou alguém que não tolera isolamento, me sinto totalmente dependente e, claro, prisioneiro. É esse o sentimento que me invade: o de ser um prisioneiro. Não sei os outros, mas de vez em quando me pego chorando. Sim, chorando. Não de desespero, mas de tristeza. Felizmente é algo rápido, logo volto ao normal, não posso aperrear meu entorno e nem entregar os pontos. Volto aos livros, a ouvir música, a escrever, a telefonar e, às vezes, escondido da esposa, tomo uma lapadinhas de cachaça. E vou para minha raça única: a janela olhar as pessoas mascaradas que passam, algumas até acenam para mim, acho que com pena do véio prisioneiro. No mais vou cumprindo minha pena, fazendo um esforço danado para não fraquejar, mas estou cansadaço. Juro. Inté.
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