Hoje, no lugar do número diário de mortos, o que mais impressiona é saber quantos morrem sem a devida assistência, à espera de um leito para internação. Isso é demonstrativo de caos e da ineficiência de todos os métodos até hoje utilizados para o combate à pandemia. Esse quadro crítico coincide com a posse de Marcelo Quiroga, o novo ministro da Saúde. Espera-se dele muito trabalho e pulso firme para implantar um parâmetro nacional de combate à pandemia, coisa que nos faltou até hoje em função do cabo de guerra em que a tarefa se transformou no momento em que governadores tradicionalmente oposicionistas e neo-oposicionistas identificaram a oportunidade de confrontar politicamente o presidente da República e, de alguma forma, tiveram o aval do Supremo Tribunal Federal. O recrudescimento da pandemia e, agora, a falta de meios para atender aos adoecidos é problema de todos. Não está na hora de procurar culpados, mas de buscar meios para evitar a mortandade na fila - aliás, um problema brasileiro preexistente à chegada da Covid-19. Vemos alguns prefeitos tomando a frente e tentando resolver o problema conforme sua leitura do quadro atual de suas cidades ou regiões e entidades se movimentando para, se necessário, atuar supletivamente. É o caso da Pró-PM, entidade de classe formada por policiais militares paulistas que, com recursos próprios, já adquiriu respiradores e faz campanha interna para conseguir outros que deverão reforçar as UTIs do Hospital Policial Militar. Também encontramos empresários preocupados em, de alguma forma, participar do combate á pandemia e imunização de seus colaboradores. Entendemos que a grande tarefa do novo ministro será a de compatibilizar os recursos, buscar outros e distribuir tarefas aos entes federados e a todos os que tiverem condição de participar da luta pela volta à normalidade sanitária. É preciso correr com as vacinas, buscando-as onde quer que elas estejam disponíveis e aceitar a colaboração de todos que tenham estrutura para tanto. É o caso dos empresários e principalmente das entidades empresariais que pretendem adquirir vacinas como forma de fazê-las chegar mais rápido à população. Já existem esquemas propostos para esse trabalho. É preciso colocá-los em pratica, pois já se verificou que no extrato dos vacinados com mais de 90 anos, embora sejam os mais vulneráveis, baixou o número de infectados e de mortes. Na medida em que a vacina chegar às faixas etárias mais baixas, o fenômeno com certeza também nelas se fará presente. A grande esperança é que o novo ministro tenha, além de autoridade e conhecimento técnico, o jogo de cintura exigido para o seu posto num país hoje convulsionado e amedrontado pelo coronavírus. Que os detentores de algum tipo de liderança tenham a sensibilidade para compreender que num momento em que contabilizamos quase 3 mil mortes por dia só de Covid-19 é, pelo menos impróprio - senão frio e até desumano - perder tempo na discussão e montagem de candidaturas e estratégia para a eleição, que só acontecerá no próximo ano. Se não ajudarem a eliminar a pandemia, os próprios supostos candidatos poderão não restar vivos na época das eleições... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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