Arquivo MAMM

Ontem participei de um sarau promovido pela Fundart em Ubatuba e contei esta história, sobre uma poesia anônima.

Antes da reforma de 1932, o Convento de Nossa Senhora do Amparo, localizado no bairro de São Francisco da Praia em São Sebastião (SP), estava em ruínas.

Em 1951, Manoel Hipólito do Rego, sebastianense ilustre que foi Deputado Constituinte em 1934 e proprietário da Fazenda Santana em São Sebastião, publicou o livro “A LENDA NO LITORAL PAULISTA” e presentou nas últimas páginas do livro três poesias que uma pessoa havia colhido nas paredes do convento antes da reforma.

Duas das poesias tinham data e autor, mas uma delas, não tinha título, data ou autor. E no livro Manoel Hipólito do Rego comenta que Ricardo Gonçalves havia se hospedado no convento pouco antes da sua morte (1916) e por isso essa poesia poderia ser de sua autoria.

Cheguei a falar no sarau que talvez esta poesia fosse de José Bento de Oliveira, o nosso NHÔ BENTO, que publicou o livro “Rosário de capiá” em 1946, no livro está a poesia “Alma Praiana” onde ele descreve a nossa cidade, sem utilizar a linguagem cabocla uma marca do seu trabalho.

Para mim, a poesia foi escrita por alguém daqui, todo esse mistério faz esta poesia ficar ainda mais interessante, segue então a poesia:

“Neste Convento solitário e antigo
Onde tudo repousa abandonado,
Entro sozinho em busca de um abrigo,
Para meu coração desesperado.

Como recordo então o tempo amigo
Que já se foi nas asas do passado,
Os bons tempos de outrora em que contigo
Sempre vivi feliz esperançado.

Como diviso aqui, ali quebrada,
A fé, uma esperança abandonada,
Uma esperança, que cumpriu a sua sina!

E sinto então que dentro do meu peito
Um coração também lá jaz desfeito,
Como um convento, assim feito em ruínas...”