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Crônicas
31/03/2021 - 06h56
Libras - Língua Brasileira de Sinais
Maria Angélica de Moura Miranda
 

Minha filha tinha 13 ou 14 anos, quando chegou em casa e falou:

- Mãe, vou fazer Libras!

- O que é isso menina?

- Libras, mãe: Língua Brasileira de Sinais.

Ela ficou sabendo que na Igreja Batista perto da minha casa ia começar aula de Libras, ministradas por uma professora surda, que era da igreja.

Claro que eu deixei, minha mãe já tinha nos mostrado que as crianças e jovens devem participar de tudo: corais, teatro, seja lá o que for, que interesse para elas.

Eu não sabia, mas ali começava a história profissional para a Clara Lúcia Puertas de Miranda, ela levou a Libras para todos os trabalhos: o TCC, a Pós e agora o Mestrado. Se tornou sem dúvida uma especialista na área.

Mas a história que eu vou contar é outra, certa vez ela passou em 1º lugar no Concurso de Professores de Ilhabela/SP, nós morávamos em São Sebastião/SP. Seria um desafio enfrentar a balsa todos os dias, só quem faz isso é que sabe, enfrentar chuva, vento sem carro e também o fato de parar a balsa se o tempo piora.

Mas ela estava resolvida e começou indo e voltando, depois alugamos uma casinha lá e ela trabalhou por 6 anos na Prefeitura de Ilhabela/SP.

Um dia ela me contou que um dos seus alunos surdo que deveria ter 6 ou 7 anos, estava tentando falar alguma coisa para ela, mas nem ela nem as outras professoras sabiam o que era.

Ele fazia um movimento com a mão e depois ficava tremendo e dava muita risada até perceber que ninguém entendia e chorava, chorava por não ter conseguido explicar para as pessoas o que ele estava falando.

Eles mostravam fotos para ele, de carro, caminhão, trator... não era nada daquilo.

O tempo foi passando e eu sempre perguntava:

- Descobriram o que o menino falava??

E ela falava, ainda não, ele já está desistindo nem fala mais.

Porém um dia a escola começou passar um documentário sobre as comunidades isoladas de Ilhabela, e nesse documentário que mostrava como as famílias viviam atrás da Ilhabela apareceu um homem ligando o motor da canoa.

O menino saiu do lugar onde eles estava e veio correndo mostrar para a minha filha o mesmo movimento que ele fazia e ninguém entendia, ela até chorou...

O pai do menino morava numa dessas comunidades caiçaras e quando ele vinha visitar o filho levava pra passear numa canoa caiçara como aquela do documentário, era isso que o menino mostrava o pai puxando um cabo ligando ao motor e depois o tremor da lancha em movimento.

A canoa em movimento faz um barulho em ritmo constante, mas quem está na canoa e é surdo como ele só sente o tremor enquanto a canoa enfrenta a correnteza.

Conto essa história para que as pessoas entendam um pouco mais dessa missão que faz o intérprete de Libras, um trabalho maravilhoso que na maioria das vezes não é reconhecido.


Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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