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Opinião
01/04/2021 - 06h20
Francisco e o lobby do arco-íris
Dartagnan da Silva Zanela
 

E eis que o mundo politicamente correto ficou com seu queixo caído quando chegou aos seus ouvidos a informação de que o Papa Francisco não abençoa o chamado “casamento gay”. Catatônicos, eles ficaram sem entender porque o Papa que havia dito que “não julgava”, agora, estaria julgando, segundo matéria publicada no jornal Folha de São Paulo no dia 21 de março de 2021.

Pois é. Mas o Bispo de Roma não havia dito isso que fora a muito alardeado pela grande mídia e, em momento algum, sinalizou que ele abençoaria esse tipo de união. Mas, para não gerarmos outras celeumas, vamos tentar entender o que o sucessor de São Pedro estava dizendo na época em que a grande mídia recortou essa fala do Papa e mutilou o seu sentido.

Porém, antes disso, lembremos de algo que, pessoalmente, considero uma regra de ouro quando o assunto é a Igreja Católica Apostólica Romana e as informações que são emitidas pela grande mídia e intelectuais criticamente críticos. Toda vez que essa gente elogia o Papa e a Igreja, o fazem pelas razões erradas; toda vez que essa turma critica a Igreja e o Santo Padre, o fazem pelos motivos errados.

Dito isso, voltemos no tempo; mais especificamente quando o Papa fez a tal declaração para vermos o que o mesmo havia de fato dito. Durante o voo de regresso do Rio de Janeiro, em 28 de julho de 2013, Francisco disse aos jornalistas que “se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem, mas diz: ‘não se deve marginalizar essas pessoas por isso, elas devem ser integradas à sociedade’. O problema não é ter essa orientação, não; devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby dessa orientação”. Foi isso que o Papa havia dito, mas, é claro, ouviu-se apenas o que era conveniente ao lobby do arco-íris.

Ora, todos somos pecadores. Todos, inclusive pessoas homossexuais. Todos, principalmente este que escrevinha essas linhas tortas. Se estamos cônscios dessa nossa condição, não é muito difícil de entender que os ensinamentos da Igreja, que é mãe e mestra, existem para que nós procuremos nos conformar a eles e, desse modo, com o auxílio da Graça divina, possamos nos tornar pessoas minimamente melhores.

Agora, se nos fechamos em copas, e acreditamos que não há nada de errado conosco e que todos, a Igreja e Deus devem se curvar diante de nossas vontades, é porque a soberba tomou conta de nosso ser e está sufocando a nossa alma a tal ponto que não somos capazes de nem mesmo entender o que estamos querendo dizer quando pedimos para que “seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”.

Aliás, como bem nos ensina o Santo Padre, em seu livro “Quem sou eu para julgar?”, que uma das maiores artimanhas do maligno é fazer-nos acreditar que, por meio de nossa justiça humana, podemos salvar-nos e salvar o mundo. Ledo engano, tremendo engano que não nos cansamos de cometer.

De mais a mais, todos somos acolhidos pela Igreja, corpo místico de Nosso Senhor, não porque somos santos, mas sim, porque todos nós somos míseros pecadores que carecemos dos unguentos que ela apresenta para nossas feridas. Para cada ferida que carregamos na alma há um unguento. Uns para uma e outra e, outros para outras tantas, mas não cabe a nós, orgulhosos, dizermos o que Deus deve nos dizer, mas sim, o contrário: tentarmos inclinar nossa cabeça dura e, no silêncio - naquele silêncio que ninguém quer ouvir - tentarmos, com atenção, entender o que o Altíssimo tem a nos dizer.

E o mais curioso é que a grande mídia, e os intelectuais criticamente críticos, não tiveram a curiosidade de consultar o Catecismo da Igreja Católica, que foi citado pelo Papa Francisco na ocasião; Catecismo esse que foi elaborado sob a coordenação de cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI), a pedido do Papa São João Paulo II. Para fazer isso tais figuras teriam que ser movidas por um desejo abnegado de procurar a verdade e proclamá-la e, talvez, por isso, não o fizeram.

Se o fizessem, além de descobrir o que a Igreja tem a dizer a respeito do assunto em questão - nos cânones 2357, 2358 e 2359 do seu Catecismo - parariam com essa firula brega e sem graça de ficar contrapondo Joseph Aloisius Ratzinger com Jorge Mario Bergoglio.

Não sei se o amigo leitor irá consultar o Catecismo para verificar a que o Sumo Pontífice estava aludindo. Na dúvida, vejamos o que diz o livrão amarelo em seu parágrafo 2358: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição”.

De mais a mais, seria importante lembrar que o Papa, enquanto aquele que ocupa a Cátedra de São Pedro, não é uma autoridade que pode ao seu bel prazer modificar os ensinamentos da Santa Madre Igreja. Não. O Papa é aquele que tem a autoridade que tem, por causa desses ensinamentos milenares; ensinamentos esses que ele tem o dever de proteger contra todas as insídias de todos os inimigos, sejam eles externos ou internos.

Em resumidas contas, como nos ensina Eugen Rosenstock-Huessy, o dever do Papa é proteger a Igreja de todos os tempos contra os devaneios e disparates da Igreja do tempo presente.

Abre Parêntese: por essas e outras que a Campanha da Fraternidade desse ano é um absurdo sem par. Fecha Parêntese.

Enfim, todos nós, sejamos heterossexuais ou homossexuais, temos inúmeros elementos desordenados em nosso interior e precisamos Daquele que se entregou por nós no alto do madeiro da cruz. Isso é algo que todos compreendem, sejam homossexuais ou heterossexuais, menos, é claro, aqueles que fazem do pecado um projeto de vida e colocam uma ideologia no lugar da majestade de Deus.

Por fim, o Papa não abençoa o “casamento homossexual” porque não pode e nem deve; ele não tem autoridade para contrariar o ensinamento milenar da Igreja. Porém, Francisco abençoa todas as pessoas, inclusive as homossexuais, pois antes de qualquer coisa somos todos pessoa, e isso, também, é um ensinamento daquela que é Mãe e Mestra.

Sobre isso, num outro livro seu - “O nome de Deus é Misericórdia” - o Papa nos lembra o caso dum homem que era divorciado, mas que, mesmo assim, todos os domingos, quando ia à Missa, dirigia-se ao confessionário e dizia: “sei que o Senhor não pode me absolver, mas pequei nisso e naquilo, dê-me uma benção”. Essa é uma pessoa que sabe muito bem o que está dizendo quando, ao rezar o Pai Nosso, diz “seja feita a Vossa vontade...”.

Nós, enquanto pessoa, sempre seremos abençoados quando pedirmos, o que não significa que tudo o que fizermos em nossa vida será abençoado.

Em resumidas contas, antes de sermos qualquer coisa, somos pessoa, somos um pecador que precisa de Cristo e é isso que a militância não quer aceitar, porque insistentemente preferem colocar sua ideologia, sua visão deformada da natureza humana, acima de todas as coisas.

Por isso, se uma pessoa está sincera e abnegadamente procurando o Senhor e tem boa vontade para seguir Cristo crucificado, não sou ninguém, repito, ninguém para julgá-la. É Ele, e apenas Ele, que dirá o que há em nossos corações.

É isso. Fim de causo.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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