Cada dia é mais clara a premissa de que a solução - ou fim - da Covid-19 está na vacinação do maior número possível de brasileiros, até chegarmos aos 147 milhões de imunizados, o equivalente a 70% da população. Nesse nível - dizem os cientistas - ocorre a chamada imunidade de rebanho, onde o vírus perde sua condição de transmissão, porque não encontra em sua trajetória - de um espirro ou pelo levar as mãos à boca, olhos ou nariz - o hospedeiro em que possa viver, proliferar e alcançar novas vítimas. As pessoas que possam ser alcançadas já estarão imunes. Mas ainda estamos longe disso, com apenas 17 milhões de vacinados, o que equivale a 8% da população. Demoramos para começar a imunização. Primeiro pela falta de vacinas no mercado, depois pelas exigências que os laboratórios fizeram e o governo brasileiro não aceitou e, finalmente, pela indigesta contenda política entre o presidente e governadores. Mas esses entraves já estão resolvidos pelo menos parcialmente. O Congresso Nacional aprovou leis nesse sentido e agora já temos em produção as vacinas do Instituto Butantan e da Fiocruz, recebemos a primeira partida de doses da Organização Mundial da Saúde e temos contratos assinados com os laboratórios norte-americanos. Isso sem falar das vacinas brasileiras em desenvolvimento no Butantan e na USP (Universidade de São Paulo) Campus de Ribeirão Preto. O novo ministro da Saúde promete vacinar 1 milhão de pessoas diariamente ainda durante o mês de abril. E a Justiça já tem decisões favoráveis à compra de vacinas pelas empresas - para atender a seus colaboradores - sem ter de doar uma parte delas ao SUS, conforme estabeleceram as normas iniciais. Foi um erro criar embaraços para as empresas adquirirem a vacina. Se o tivessem feito meses atrás, teríamos hoje um número bem maior de brasileiros vacinados e as doses adquiridas pelo governo poderiam ser destinadas apenas aos servidores públicos e à população sem vinculo empregatício e com menor condição financeira para comprar o imunizante. Espera-se que agora, quando já temos contratos e tratativas com diferentes fornecedores, o empresariado seja liberado para participar da imunização. Todo empregador tem interesse em vacinar o mais rápido possível seus colaboradores e, para manter a saúde deles, também proteger seus familiares - mulher, filhos, pai, mãe e outros que morem na mesma casa. Estima-se que, no dia que isso for possível, a vacina de origem “particular” poderá imunizar até 80% da população, que é a massa trabalhadora e seus conviventes. Se isso já estivesse em andamento, os governos - da União, Estados e Municípios - poderiam estar direcionando seus recursos e trabalhos para ampliar o atendimento hospitalar e ambulatorial dos adoecidos. E, com o alto índice de vacinação, esse público logo começaria a diminuir e não aumentar conforme tem ocorrido nos últimos meses. Já temos dito em artigos anteriores, mas nunca é demais lembrar. A pandemia é uma guerra sem tanque, metralhadora ou fuzil, mas se mostra tão letal quanto. A grande arma para vencê-la é a união entre os poderes públicos e até a população. Se não a conseguirmos, ainda teremos de sofrer muito até que o mal se acabe. Que os governantes remem todos numa só direção, e a população abandone os procedimentos de risco. A falta dessa linha comportamental poderá custar muito sofrimento e vidas... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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