Numa cidade pequena como São Sebastião/SP, temos o privilégio de conviver com as professoras que nos alfabetizaram. Com o tempo elas se tornam nossas amigas, como é o caso da tia Mariza Orselli e da Maria Helena Torres. Mas hoje peço licença pra contar a minha história com professora René Barbosa. Minha mãe tinha um bazar e conforme a época, ela e meu pai viajavam para a 25 de Março e compravam os produtos, carnaval: confetes, máscaras, fantasias, Natal: bolas, enfeites para a casa e presentes, mas no começo do ano, eles vinham com a caminhonete cheia de materiais escolares, livros, cadernos, lápis de cor, apontadores. Certa vez minha mãe estava colocando preços nos produtos, me chamou e deu um apontador, esse apontador tinha na base de cima uma paisagem e um animal, que podia ser coelho, gato, ou cachorro. Conforme a gente mexia o apontador, o animal se movia no desenho. Eu adorei! Quando chegou perto da hora do almoço, minha mãe foi pra casa pois tinha que acabar o almoço e me deixou no bazar com o meu irmão. Eu costumava levar a minha mala de escola para lá, pois era a hora que eu tinha pra fazer a lição de casa. Peguei uns 20 apontadores e coloquei na mala. À tarde fui pra escola, chegando lá coloquei um apontador na carteira de cada aluna da minha classe, as crianças chegaram e ficaram malucas. Tocou o sinal, e a professora René Barbosa entrou na classe e viu aquilo. Se aproximou da minha carteira e falou: - Maria, a sua mãe sabe que você trouxe isso? E eu respondi: - Não, ela não sabe. Ela então foi lá na frente e falou: - Podem olhar o apontador, mas já já vou passar para recolher. E assim ela fez, passou de carteira em carteira recolhendo os apontadores. Na hora de ir embora, ela esperou que eu arrumasse as coisas na mala e veio comigo até em casa. Quando a minha mãe viu a Dona René comigo, ela logo perguntou: - O que que ela andou aprontando, René?? Dona René respondeu; - Primeiro me promete que não vai bater nela. E depois ela contou para a minha mãe o que tinha acontecido e as duas me explicaram que eu não podia fazer isso. Acompanhei a Dona René até seus últimos dias, e ela sempre me falava: - Maria, lembra da história do apontador??? Lembro, Dona René, não vou te esquecer nunca!
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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