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Opinião
07/06/2021 - 06h33
Diga: paca, tatu; cutia não
Dartagnan da Silva Zanela
 

A ciência não explica tudo. Na verdade, ela apenas nos esclarece algo a respeito de algumas coisas. Ao dizer isso não estou desmerecendo a dita cuja. Nada disso. Estou apenas apontando para uma obviedade ululante.

Isso mesmo. Sem essa modéstia diante da realidade não se pratica ciência alguma.

Como nos ensina Karl Jaspers, todo aquele que for adotar uma atitude científica perante os problemas que a vida nos apresenta, deve-se lembrar que, tal atitude, a científica, caracteriza-se pela consciência metodológica dos limites de validade da ciência.

É amiguinho. A ciência tem limites e todo aquele que se dedica a algum estudo desse gênero sabe muito bem disso.

Resumindo o entrevero: sem modéstia frente aos possíveis resultados e, principalmente, sem humildade perante a complexidade da realidade, não há atitude científica. Há apenas afetação de virtude.

Por isso, todo aquele que se dedica a uma investigação científica, bem como todo aquele que procura deitar suas vistas em trabalhos que apresentam os resultados de uma investigação dessa estirpe, deve estar disposto a confrontar os resultados que estão diante de seus olhos com os resultados de outros estudos, não para simplesmente tentar confirmar como certo o resultado do seu trabalho, custe o que custar, mas sim, para chegar à verdade, mesmo que isso exija o reconhecimento de que o resultado obtido através do seu estudo estaria redondamente errado.

E chegar a resultados errados numa investigação científica não é o fim do mundo. Nada disso. Na verdade, faz parte do dia a dia desse tipo de lida.

Se formos pegar a história das descobertas científicas e das criações técnicas veremos que, para se chegar a um resultado razoável, foram necessários incontáveis experimentos e, muitos deles, chegaram a resultados inconclusivos, ou mesmo disparatados, antes de se obter uma resposta minimamente razoável.

Ora, quantas lâmpadas elétricas, que não funcionaram, Thomas Edison criou antes de chegar ao resultado que ele almejava? Não foram poucas. Quantos experimentos foram realizados, quanto tempo foi empreendido, para se chegar à descoberta da penicilina? Pois é. Boleiras. Seja como for, a atitude científica sempre parte de um problema que carece de uma resolução, não de um suposto resultado que precisa de uma problematização para ser justificado.

Uma investigação científica não é uma revelação. Não basta dizer, batendo o pesinho, que isso é científico e aquilo não, que algo se torna um axioma; como também não se chega a uma descoberta por meio de uma votação. Uma investigação cientificamente ordenada exige um grande desprendimento dos agentes que estão à procura da verdade. Sem isso, não há sinceridade e, sem sinceridade diante do objeto de estudo, não há ciência.

Por isso, quando vemos uma montoeira de pessoas simplesmente partindo de um ponto, obscuro e duvidoso, como se esse fosse uma verdade científica, cabal e incontestável, censurando de forma ranheta todos aqueles que estão levantando questões válidas sobre um problema, chamando-as de “negacionaista”, tais pessoas não estão fazendo ciência nem aqui, nem na casa do chapéu. De jeito maneira.

Na real, fazendo isso, imaginando que estão “falando em nome da ciência”, elas estão apenas idolatrando uma palavra esvaziada de sua substância para tentar justificar, de uma forma tola, suas vidas desprovidas de sentido.

Detalhe importante: quando vemos uma multidão ululante repetindo o que a grande mídia propagandeia aos quatro ventos com a etiqueta de “científico” e, ao mesmo tempo, vemos essa mesmíssima multidão, carimbando todos os que estão dizendo o contrário do que foi alardeado pela mídia como sendo “negadores da ciência”, "obscurantistas" ou algo que o valha, o que os indivíduos que integram essa multidão não percebem, em momento algum, é que negar a atitude científica não é levantar objeções, mas sim, negar a necessidade de se fazer objeções.

De mais a mais, por essa razão que Eric Voegelin lembra-nos que um dos traços fundamentais das mentes deformadas pelas ideologias é a proibição histriônica de levantar questionamentos. Se os questionamentos são proibidos é porque uma ideologia se apresenta soberbamente como sendo a "reveladora" de todas as respostas.

Por isso que cientificismo não é ciência, mas sim, uma pérfida ideologia. E é isso, o cientificismo, que está no coração e na mente de todo aquele que enche a boca pra rotular alguém de “negacionista”; corações e mentes que estão, a cada dia que passa, mais e mais deformados porque, como todos nós muito bem sabemos, é isso o que todas as formas de idolatria fazem: desfigurar a alma dos indivíduos e corromper a inteligência das pessoas.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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