Sempre recordo os espantos do passado que, contados hoje aos mais moços, vira piada. Como todos os mais adentrados nos anos sabem, o sexo atualmente não é mais alvo de preconceito, tabus ou quaisquer espantos. O sexo hoje não tem mais qualquer mistério, a não ser a perversão e a violência em alguns não raros casos. Sexo virou poesia e carnaval, como diz uma música de Rita Lee. Não sei se há amor, penso que nisso houve retrocesso.

Mas vamos aos espantos de antigamente. Quando era rapazinho (faz tanto tempo...) quando um de nós via um palmo das coxas de uma moça era um deslumbramento e matéria para os tais sonhos solitários. Uma festa. Um gol de placa. Tudo bem, logo depois vinham beijos, abraços e amassos, mas tudo debaixo dos panos. E como havia panos... Tudo escondido e com os maiores cuidados porque naquele tempo as freiras diziam às mocinhas que elas poderiam engravitar até usando o sanitário usado por rapazes. E haja distanciamento.

Para anão me alongar vou apenas exemplificar o espanto sexual dando uma palinha sobre um filme francês, impróprio para menores de 18 anos, que assistimos devido à amizade com o porteiro. Foi o filme, "Les Amants", com Jeanne Moreau (filme em preto e branco). Foi um escândalo, inclusive o pároco da cidade passou uma semana afirmando que quem assistiu ao filme iria pras profundas do inferno. Motivo: numa cena os dois protagonistas simulam a prática do sexo oral. Algo quase ingênuo hoje, eles se beijam e depois aparece apenas parte do corpo da atriz, o close no seu rosto e ela arfando e gemendo, aí baixa o braço e bem devagar sua mão aperta a do amante, sinalizando o orgasmo. Só isso. Era um tempo que o sexo era apenas visto como normal na base do papai com mamãe para procriação. E no escuro. Só vai rindo. Inté.