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Opinião
15/07/2021 - 05h58
Fake news e outros bichos marotos
Dartagnan da Silva Zanela
 

Somente a consciência individual pode dar testemunho dos atos solitários, desprovido totalmente de qualquer testemunha externa; e, não há nesse mundo, ato mais solitário, mais desprovido de testemunha externa, do que o ato de aprender.

Estejamos no meio da multidão, ou imersos numa muvuca qualquer das redes sociais, com suas intrigas e banalidades mil, o sujeito do aprendizado de qualquer coisa é, sempre, a pessoa que está se informando, ou sendo informada, a respeito de algo que ela considere ou não um assunto interessante.

Por isso não existe esse trem fuçado chamado por muitos de aprendizado coletivo. Coletivamente se dissemina uma informação, em grupo realizamos uma apresentação, confeccionamos um relatório, um parecer, ou um trabalho escolar, mas o tal do conhecimento é sempre individualizado, singular. Não tem lesco-lesco.

Quando olhamos para uma sala de aula, por exemplo, podemos nos perguntar qual é a porcentagem do aprendizado da turma e, independente de qual seja a turma, a única resposta séria que pode ser apresentada é zero por cento. Isso mesmo. Zero. E a razão para isso é muito simples: uma turma, um grupo, não aprende patavina alguma. Quem aprende são as pessoas que integram o grupo. Algumas aprendem mais, outras muito mais e, algumas pouco ou quase nada. Já a turma em si, nada aprende, porque ela não é sujeito cognoscente de nada.

E isso se deve a uma razão muito simples: os entes coletivos não têm consciência. Entidades coletivas não tomam ciência de nada. Somente a pessoa humana, com sua singularidade pode fazer isso. Ponto. Zefini.

Entretanto, preguiçosamente, em muitas ocasiões, e elas não são poucas, uma pessoa pode simplesmente abdicar do exercício de sua consciência individual e delegá-lo a terceiros e aí, ao invés de termos de encarar a encrenca que é conhecer a verdade dos problemas, juntamente com os problemas que implicam o conhecimento da verdade, passamos a depositar nossa confiança em entidades externas como o tal do suposto “consenso científico”, o dito cujo do “jornalismo” da grande mídia, os ditames dum partido político, a opinião de Fulano ou Sicrano, e assim por diante.

Quando fazemos isso, sem querer querendo, acabamos por pura preguiça cognitiva permitindo que alguém, malandramente, nos instrumentalize e, para disfarçar o vexame que estamos nos entregando graciosamente, tal manipulação é pintada, com todas as cores do arco-íris, como sendo apenas e tão somente “uma opinião crítica”, ou “uma opinião com base científica”, ou qualquer outra coisa que o valha.

E, para reforçar mais ainda essa fantasia preguiçosamente elaborada, é importante depreciar qualquer outra pessoa que diga o contrário porque, “sacumé”, quando abdicamos das potências da nossa consciência individual, sentimo-nos profundamente fragilizados e, por isso mesmo, esse expediente torna-se necessário.

Ou seja: quando, para tais alminhas, chega uma informação que até então não estava presente em seu horizonte, essas, ao invés de manter-se em estado de dúvida para poder analisar melhor a nova informação que chegou até as suas mãos, preferem apenas dizer que isso ou aquilo seria uma “fake news”. Prático, rápido, higiênico e, é claro, estúpido.

E tais figuras consideram isso ou aquilo como sendo uma “fake news”, ou uma “teoria da conspiração”, não porque pararam para estudar o assunto e refletir seriamente sobre o tema. Não. Esse tipo de empreitada dá trabalho, exige esforço abnegado, e essas são coisas que essa gente não quer saber de jeito maneira.

Nada de angústia para procurar a verdade. Elas se contentam com a sensação de segurança que lhes é passada por uma “agência de checagem” que carimba isso e aquilo como sendo “teoria da conspiração”, ou “fake news”, ou “discurso de ódio”.

Pois é. Malandro que é malandro não bobeia. Dá nó em pingo d’água sem muito esforço. E, atualmente, se tem um trem malandro pra caramba é essa história de “fake news”, “teoria da conspiração” e “discurso de ódio”. Na verdade, estamos diante de um sofisticado mecanismo de controle, logo, de censura e manipulação.

Vejam só como a parada é sutil: não se proíbe que uma informação seja divulgada porque ela nos apresenta verdades que ferem os interesses de corporações e organizações políticas, mas sim, porque Fulano, Sicrano e Beltrano, estão disseminando “fake news”, propagando “teorias da conspiração” e fomentando “discursos de ódio”, de acordo, é claro, com o que nos é dito pelas “agências de checagem”, que passam a desempenhar um papel que até então deveria ser realizado por nossas combucas pensativas.

E o mais interessante é que praticamente todas as agências de checagem são ligadas a um órgão da grande mídia e tem uma orientação político-ideológica à esquerda.

Ao apontar isso não estou dizendo que devemos clamar aos deuses antigos e aos deuses novos que nos presenteiem com uma nova entidade para que possamos confiar e depositar as funções de nossa consciência individual. Nada disso. O que digo e repito é que devemos desconfiar de nós mesmos quando estamos, sem pestanejar, desmerecendo de forma automática algo simplesmente porque ouvimos dizer que isso seria uma “fake news”, ou uma “teoria da conspiração”, ou um “discurso de ódio” ou qualquer tranqueira desse feitio.

E se não somos capazes de fazer isso, de quebrar com essa mandinga midiática e ideológica, continuaremos a ser instrumentalizados por feiticeiros sombrios que juram, de pés juntos, que estão nos libertando com suas conjurações “criticamente críticas” e com seus patuás “cientificamente científicos”.

Por isso, antes de rotular, reflitamos. Sim, dói um pouco, é verdade. Leva algum tempo e isso, também, não é mentira. Mas esse é o único caminho que temos para podermos lutar contra as forças desses íncubus e súcubus que relativizam tudo e rotulam todos para melhor esvaziar nossas consciências.

Enfim e por fim, lembremos sempre que somente a consciência individual pode dar testemunho dos atos solitários, desprovido totalmente de qualquer testemunha externa; e, não há nesse mundo, ato mais solitário, mais desprovido de testemunha externa, do que os atos de aprender, conhecer, entender e compreender.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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