O domingo, 3 de outubro, oportunizou boas reflexões. Estamos a menos de um ano das próximas eleições - de presidente da República, governadores estaduais, senadores e deputados federais e estaduais, a chamada “eleição geral”, marcada para 2 de outubro de 2022. O 3 de outubro é significativo na vida brasileira. Foi nessa data que eclodiu a Revolução de 1930, sepultando a República Velha - das oligarquias - e levando ao poder Getúlio Vargas, que lá permaneceu por 15 anos, sendo os iniciais como governo provisório e os oito finais na condição de ditadura declarada. Mas, independente da forma que se constituiu o poder, o período foi de grandes transformações decorrentes do imperativo local e da 2ª Guerra Mundial. Foi na chamada Era Vargas que se criou a Justiça Eleitoral e com ela o voto feminino e universal com sigilo garantido pela estrutura. Três de outubro foi fixado como dias das eleições - e assim permaneceu até meados dos anos 60, em referência ao ponto de partida do Movimento de 30 e sob a justificativa de que a Constituição de então determinava a posse dos eleitos 90 dias após a eleição; como esse é o exato intervalo entre o terceiro dia de outubro e o primeiro de janeiro - data em que os eleitos assumem - assim ficou estabelecido. Diferente de hoje, quando a Lei das Eleições (nº 9504/97) determina a votação no primeiro domingo de outubro. Nesse momento da vida nacional, temos a incômoda polarização política, que leva as partes a extremos e ao arrepio da ética e do bom senso. Ataques, versões e ilações povoam o cenário político e - em vez de ajudar - deslustram a imagem do político. Depois de tantas escaramuças entre os opostos, o povo foi estimulado a ir às ruas em 7 de setembro (a favor do governo) e em 12 daquele mês e no último sábado, 2 de outubro, em atos da oposição. Todos reconhecem que os oposicionistas não lograram êxito, mas buscam legitimamente justificativas e a polarização continua. Na minha trajetória de sete décadas encontrei o Brasil democrático - do período 1945-64 - onde a esquerda lutava para chegar ao poder e acabou assumindo através do vice-presidente João Goulart (1961/64), que cedeu às pressões dos aliados e esticou a corda além do possível, não conseguindo terminar o mandato herdado de Jânio Quadros, que renunciou. Vieram os 21 anos de governo militar - hoje catalogados como ditadura mas na época autoclassificados como democráticos - e, a partir de 1985, o período democrático mais longo da história brasileira que sobrevive até hoje, à duras penas e com muitas desinteligências e interrogações. A esquerda, presente há um século na política brasileira, construiu toda sua trajetória sobre o discurso moralista que prometia austeridade administrativa e igualdade a todos. Conheci alguns próceres dessa narrativa, inclusive o seu exponte Luiz Carlos Prestes (no fim de sua vida). Finalmente, a tendência chegou ao poder parcialmente em 1994 com FHC e completamente em 2003 através de Lula. Mas os líderes - e principalmente os aliados e colaboradores - não souberam concretizar o discurso vindo desde o tempo do velho PCB. Os acontecimentos das últimas décadas - que não precisamos aqui repetir - motivaram explosivos inquéritos, processos, prisões e afastamentos da vida pública. No poder, os esquerdistas não conseguiram concretizar os sonhos pregados por quase um século e hoje correm do prejuízo, lutando pela recuperação da imagem desgastada. A direita, por sua vez, faz tudo para demonstrar que muda o quadro e corrige velhos defeitos. Muitos dos políticos e membros da estrutura institucional parece ainda não terem compreendido o momento delicado por que passamos e realizam incursões perigosas. Todos hão de compreender que o povo hoje dispõe de veículos de comunicação e de estruturas a que podem recorrer para obter informações fidedignas sobre aqueles em quem pretende votar. Ficou mais difícil enganar. Temos um grande país, com recursos, clima, território e oportunidade de evoluir como potência mundial. Mas é preciso muito juízo para evitar colocar tudo a perder e, por interesses subalternos ou de grupos, permitir que a nossa vez seja assumida por outros mais organizados e menos belicosos entre si... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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