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Meu avô Sebastião Justo de Moura e meu pai Álvaro Moura, tinham uma construtora. Naquele tempo era assim: a pessoa chegava para o meu avô e falava: “Seu Sebastião, minha filha vai casar, quero que o senhor construa uma casa para ela.” Meu avô e meu pai iam ver o terreno, depois meu pai fazia a planta em papel vegetal e nanquim. Meu pai tinha autorização do CREA para fazer plantas e acompanhar obras até 100 m². Meu avô então preparava o terreno e a obra começava, ele tinha no fundo do quintal, na sua casa, uma serra de carpintaria e todas as ferramentas para esse serviço. Fazia as portas, as janelas, todo madeiramento do telhado, e depois as camas, a mesa, as cadeiras, cristaleiras, e os guarda-roupas. Na verdade a pessoa só precisava das panelas e das roupas para começar a usar a casa. Meu avô aprendeu o ofício de carpinteiro na fazenda que exite até hoje na praia de Toque-Toque Grande, onde ele nasceu. Com o tempo meu avô Sebastião acabou ficando surdo por causa do barulho dessa serra, mas viveu até a década de 70. Na década de 80, quando eu trabalhava como jornalista, fui em muitas casas que as pessoas falavam: “Seu avô que fez esta mesa, esta cama ou esta cristaleira.” Minha irmã Débora Puertas, tem uma dessas cristaleiras que foi da minha mãe e agora está na casa dela. Lembro ainda que a prancheta onde meu pai trabalhava ficava num dos quartos e muitas vezes a minha mãe Beatriz Puertas, ralhava conosco para sair de perto da prancheta enquanto ele desenhava. Meu pai falava: “Deixa Beatriz, eles não estão atrapalhando!” Claro que as “pragas” estavam atrapalhando... Esse universo de papel vegetal e nanquim ainda esteve perto de mim quando fui trabalhar na Secretaria de Obras da Prefeitura de São Sebastião em 1972, com a Vera e o Dr Remo Corrêa da Silva. Ele chegou em São Sebastião em 1939, veio para a construção do porto e acabou ficando por aqui. A Verinha e eu precisávamos observar nas plantas as alterações que eram feitas para encaminhar os processos. Conheço alguns engenheiros que ainda atuam em São Sebastião, que aprenderam a trabalhar com papel vegetal e nanquim, com meu pai. Quando mudei para São José dos Campos, 1978, só consegui entrar na Embraer pois sabia fazer a leitura de plantas. Passei num concurso que era para Controladora de Dados de Engenharia e precisava implantar no computador as alterações nos projetos dos aviões, naquele tempo era tudo no papel vegetal e nanquim, não havia AutoCAD ainda. Tempos depois casei com um desenhista e arte finalista, o Paulo Afonso, que trabalhava comigo na Embraer e fui fazer jornais e logos de empresas, novamente tinha uma prancheta na minha sala e meu marido trabalhava com papel vegetal e nanquim. Hoje em dia a tecnologia já deixou tudo isso para trás, mas ainda guardo alguns normógrafos que foram usados pelo meu pai até 1969, quando ele faleceu.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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