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Opinião
25/03/2006 - 16h42
Males do Brasil
J. O. de Meira Penna - Parlata
 

Para manter a sanidade no Brasil só mesmo recorrendo à literatura de boa qualidade, à Bíblia, aos filósofos, aos ensaístas e romancistas. É lá que se vê que homens podem ter juízo perfeito e serem capazes de apreender o real. Ler jornais e revista, por seu turno, é um exercício masoquista, sobretudo se o leitor se ativer ao noticiário político. As mentiras correm soltas em substituição à verdade, o falso conhecimento é transmitido em tom de prédicas. Dois fatos desses dias saltam aos olhos: o primeiro, a entrevista-propaganda do novo livro de Fernando Henrique Cardoso, da qual a revista Veja que chegou às bancas é o veículo. O outro a novela do cai-não-cai do ministro Palocci.

FHC foi muito (in)feliz ao dizer: “Você deve ter visto como, no meu livro, eu mesmo às vezes reajo contra o capitalismo. Porque o capitalismo tem um problema que me irrita: a desigualdade. É da sua essência”. Toda a somatória das mentiras políticas nacionais está contida nessa curta frase. Em primeiro lugar, a origem da desigualdade não é a forma capitalista de organizar as relações sociais, a única “natural” e que respeita a liberdade individual. E segundo porque as alternativas ao capitalismo ou são as sociedades arcaicas ou o socialismo de triste memória, dos cem milhões de mortos.

Há desigualdades porque os indivíduos nascem com potencialidades desiguais e usam com maior ou menor eficácia os seus talentos ao longo da vida, de acordo com suas vontades e suas circunstâncias. Ser contra a desigualdade é ser contra o nascer do Sol, algo estúpido. Querer fazer do Estado a varinha de condão capaz de eliminar esse dado da vida é mistificação política. É pavimentar o terreno para a tirania, sempre cheia de bons propósitos e más ações.

Não podemos esquecer que FHC é um homem já velho, que estudou e exerceu o poder em muitos níveis. Não é um qualquer. Ainda que não fosse por outra razão, apenas por experiência, se tivesse o mínimo de ética e compromisso com a verdade dos fatos diria o que deveria dizer: “As coisas são o que são e graças a Deus o capitalismo continua a viger por aqui, apesar de todas as esquerdas e apesar de mim e do meu governo”. Mas não tem coragem o bastante, fibra moral o bastante para abraçar a verdade. Teria que negar toda a sua biografia e sua obra teórica.

Por isso que não fica nem vermelho (vade retro, vermelho lembra muita coisa ruim) ao se dizer de esquerda. Nisso não mentiu, ao se dizer mentiroso entrou em paz com a verdade, pois a esquerda é, toda ela, fruto da mentira política. Fez uma confissão e tanto.

****

O ministro Palocci, podemos dizer, foi pego com as calças na mão e – por que não dizer também? – com a mala na mão. Os depoimentos da cafetina brasiliense e agora do caseiro são bombásticos o bastante para reduzir a pó não apenas a sua credibilidade, mas também a sua honorabilidade. Mas no Brasil de tantos malandros e de tanta apologia à malandragem esses vícios desabonadores tornam-se o seu contrário, práticas virtuosas.

Não era nem mais para ele estar no poder. Não reúne as condições para se manter ministro de Estado. O problema é que a estrutura de poder do PT guarda uma analogia com as organizações mafiosas, no sentido de que os chefes só são apeados pela morte. Têm poder demais e sabem demais para serem substituídos como um servidor qualquer em qualquer cargo público. E Palocci não é um qualquer, é o sucessor do defunto desenterrado Celso Daniel, a assombração de todos os petistas. Só mediante “uma proposta irrecusável” é que são eventualmente defenestrados. Por isso aqueles mais à esquerda do espectro político têm vocação para ditadores. Afinal, como na Máfia, o chefe é o todo-poderoso, o Padrinho. Mata, tortura e esfola. Coitado do Celso Daniel, que caiu em desgraça.

São esses os males do Brasil, que sua classe política é mentirosa e que seus dirigentes não têm nenhum escrúpulo, são capazes de sacrificar os interesses da maioria aos seus minúsculos caprichos. São seres indignos e malignos.


Nota do Editor: J. O. de Meira Penna é diplomata, tendo ocupado vários cargos no exterior e chefiado sete embaixadas brasileiras. É também escritor e jornalista, com mais de 20 títulos publicados, como "Em Berço Esplêndido", "O Espírito das Revoluções", "O Dinossauro", "Opção Preferencial pela Riqueza" e "A Ideologia do Século XX".

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