”Se meu ponto G falasse” é o título daquela antológica peça teatral de Júlio Conte, Heloísa Migliavacca e Patsy Cecato, dirigida pelo Júlio e que há anos faz sucesso nos palcos deste país. Agora: o que é mesmo o ponto G? Segundo os estudiosos do assunto, trata-se de uma pequena área em torno da abertura da uretra (feminina; homem não tem desses mistérios), na qual estão concentradas várias glândulas, vasos sangüíneos e terminações nervosas, e cuja função é proporcionar prazer. Encontrar o ponto G, dizem os entendidos, não é tarefa fácil. Sentada ou deitada, a mulher tem de explorar a vagina com os dedos até chegar ao lendário lugar. Isto também pode ser feito, e com óbvia vantagem, pelo parceiro. Que assim também aprenderá alguma coisa sobre a natureza feminina. Pois eu quero aqui introduzir um outro ponto, que também existe nos homens - aliás, existe principalmente nos homens. É o ponto C. Este C não designa aquilo em que vocês estão pensando, seus imorais. A letra C aí é de "costas". E o que é o ponto C? É o lugar, no dorso, que sempre dá coceira. Diferentemente do ponto G, ele é fácil de identificar, mas muito difícil de atingir, principalmente nos adultos. Não é que a gente, com a idade, fique com costas largas; isto também acontece, e tem por finalidade arcar com as faltas que os filhos, os amigos, os colegas nos atribuem. Mas é que os nossos braços perdem a agilidade e, conseqüentemente, o alcance. Há zonas nas costas que jamais tocaremos com as pontas dos dedos. E esta frustração, esta irritação é um dos principais elementos da crise da meia-idade. Porque a verdade é que coçar (de novo: em certa idade) é um prazer. Uma outra peça teatral, aliás, tem como título “Trair e coçar é só começar”. Nem todo mundo trai, mas todo mundo coça. E coçar é ótimo. Freud poderia falar horas sobre o prazer proporcionado pelo rítmico rascar das unhas sobre a pele. Um tio meu sofreu durante muito tempo de uma micose nos pés que lhe dava coceira. Finalmente resolveu consultar um médico que lhe prometeu: eu lhe dou um remédio que acaba completamente com essa coceira. Ao que meu tio protestou: ele não queria que a coceira acabasse completamente, ele queria continuar coçando um pouquinho. Mas como é que a gente coça o ponto C, tão inacessível quanto o topo do Himalaia? A forma mais simples é pedir à mulher ou a um amigo. Aliás, a disposição para ajudar nestes momentos é uma grande prova de afeto - e de outras coisinhas mais. "You scratch my back, I’ll scratch yours", dizem os americanos: você coça as minhas costas, eu coço as suas. Uma frase que tem uma óbvia conotação de troca de favores, como se sabe na área política. Mas quando não se pode recorrer a esta reciprocidade, o que fazer? Uma solução habitual é esfregar-se no marco da porta, mas a este falta a precisão necessária. Uma vez, em Paris, encontrei numa loja um “gadget” destinado a este específico problema. Era uma mãozinha de metal, com dedos em garra, provida de uma haste que por sua vez estava conectada a um motor. Este ligado, a mãozinha diligentemente punha-se a coçar o ponto C. Ou seja: um vibrador, mas não com finalidades sexuais. Desperdício de tecnologia? Não é o que acham os solitários que sofrem por não poder acessar o ponto C. Para eles, a tecnologia é uma bênção. Só superada pelos amáveis dedinhos da mulher amada.
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