O anúncio do lançamento que o PSDB fez de Geraldo Alckmin a presidência da República, em 14 de março deste 2006, é data significativa na medida em que fez emergir uma nova liderança nacional com porte de estadista. E convém aqui lembrar que a importância de cada candidato reside no potencial de mudanças que ele carrega, pois são elas, considerado especialmente o âmbito nacional que afetarão os rumos econômicos e sociais do país. Geraldo Alckmin, com notável poder de síntese resumiu as mudanças que pretende fazer em três bandeiras ou metas: "um banho de ética no governo brasileiro; eficiência, fechando todas as torneiras do desperdício; reformas que vão possibilitar ao país avançar com firmeza, num grande projeto de desenvolvimento". Com relação a ética, o PT, que se dizia o único detentor desse atributo entre todos os demais partidos, ao chegar ao poder em sua quarta tentativa ofereceu um espetáculo tal de degradação moral através de sua cúpula e de seu governo, que se não fosse a gritante desinformação dos brasileiros em geral o presidente da República já teria sofrido o impeachment por força da opinião pública sobre as oposições. Recorde-se aqui o caso do ex-presidente Collor, que por muito menos foi apeado do cargo. Naquele tempo, em nome da ética o PT teve expressiva contribuição no episódio. Foram arregimentados os caras-pintadas que gritaram nas ruas um retumbante "fora Collor", e todo o povo parecia tomado de indignação contra a corrupção. Agora a UNE virou, segundo a imprensa, uma entidade chapa branca que recebe do governo e não se vê nenhuma manifestação de massa da parte de sindicatos, ONGs e demais representantes de categorias sociais. Nesse amorfismo oposicionista muitas pessoas se sentem indignadas, mas também impotentes, atomizadas, dispersas, sem saber o que fazer, pois não existem lideranças capazes de fazer o grito de repúdio ecoar nas ruas. O último exemplo de imoralidade pública surgiu nas CPIs. Numa delas, Duda Mendonça, o marqueteiro real de milhões de dólares, protegido pelo manto da Justiça deu um show de deboche e cinismo ao se recusar a responder as perguntas feitas pelos deputados. Em outra CPI o caseiro Francenildo dos Santos Costa expôs a podridão da mansão da chamada República de Ribeirão Preto, alugada com a finalidade abrigar negócios escusos e farras, e que contava também com a presença do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Naturalmente este nega que lá esteve. Para acentuar ainda mais a impunidade, o senador petista, Tião Viana (AC), solicitou ao STF que a sessão em que depunha Francenildo fosse suspensa. O senador foi prontamente atendido pelo ministro César Peluso e se alguns juristas defendem essa intervenção do Judiciário no Legislativo em nome de aspectos legais, por outro lado se pode vislumbrar na ocorrência algo que já salientei em outros artigos: está havendo um enfraquecimento do Legislativo (cada vez mais desmoralizado através das absolvições dadas aos mensalistas) e do Judiciário (que se move sob as ordens do governo). Nesse cenário avulta o que se poderia chamar de ditadura disfarçada do PT. Um arremedo da "democracia chavista" que num segundo mandato de Luiz Inácio seria aperfeiçoada. Nesse clima de total devassidão institucional questiona-se se o povo se importa ou não com a corrupção de suas mais altas autoridades, ou se compraz com algo que também pratica. Será que os valores mudaram tanto de Collor para cá? Ou mesmo do ano passado para agora? Afinal, quando as CPIs em seu auge mostraram na TV o que ocorria no governo do PT, foram derrubadas vertiginosamente a popularidade do presidente da República e dos seus companheiros. Será, então, que num curto espaço de tempo nos transformamos numa imensa mansão de esbórnia da República de Ribeirão? Prefiro acreditar que está nos faltando liderança e "banho ético". Claro que ainda se espera pelas definições de outros partidos como o PMDB e o PFL, mas esse certamente agregará forças ao PSDB indicando o vice de Alckmin. A senadora Heloísa Helena será lançada pelo PSOL, mas dificilmente poderá arregimentar votos como os grandes partidos. De todo modo, é de Geraldo Alckmin que o PT tem medo. Mesmo porque, ele é o desconhecido com sua carga de imprevisibilidade e conseguiu dar uma lição de determinação ao vencer a cúpula de seu partido que preferia José Serra. Por suas qualidades, entre as quais a competência, Alckmin será triturado pelos petistas com seu conhecido estilo borduna. Resta saber se o povo prefere mudar os rumos do Brasil ou continuar contando "piadas de salão" (como disse Delúbio Soares) que o PT nos ensinou. Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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