| Divulgação |  | | | Cartaz do filme Dirigindo no Escuro, com roteiro e direção de Woody Allen. |
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Estamos caminhando celeremente rumo ao primeiro mundo. Não me recordo de outro inverno tão frio a beira-mar. Parece Dover, é Ubatuba, terra dos índios generosos que não comeram o alemão. Num frio desses só resta acender a lareira e ler, ou assistir a um bom filme. Foi o que fizemos nos feriados. Sou fã de Woody Allen, quando vi na prateleira da locadora o filme "Dirigindo no escuro", fiquei feliz. Um dos raros filmes do autor que eu ainda não tinha assistido. Como em outros filmes de Woody Allen, os diálogos são inteligentes e bem-humorados, a música certa é colocada nos momentos adequados, a fotografia é quase perfeita, e o plot absurdo faz contraponto ao apuro técnico-estético. É a marca registrada do diretor. Depois de um início promissor comecei a sentir um certo mal-estar. As cenas amorosas me faziam pensar em religião. Precisei me beliscar para ver se era verdade. Na tela, o galã e a mocinha, - muito bonita por sinal - trocavam beijos e eu imaginava o suplício de São Sebastião, aquele da pomada minâncora. Woody Allen envelheceu mal. Fisicamente ele está bem, em boa forma, porém, dá sinais de estar sofrendo de anacronismo auto-estético. Parece-se com "Habacuc" de "O incrível Exército de Brancaleone", no espelho vê-se como Rodrigo Santoro. Fica estranho no papel de galã contracenando com atrizes jovens. Nas cenas de amor, elas invariavelmente mais altas e com um terço da idade dele, beijam um quase anão semicareca. Nada mais fake. Woody Allen precisa parar de lutar contra o inexorável e envelhecer em paz e também precisa deixar de ser exibicionista. Todos sabem que ele tem casos com atrizes jovens. É problema dele e delas. O que fazem entre quatro paredes não é da conta de ninguém. Querer que o mundo inteiro veja no cinema é demais. Não é preconceito, mas um velhinho baixinho e feio como uma segunda-feira chuvosa, beijando garotas lindas é de mau gosto, soa falso. Deslize estético. Fora isso, desde o início sabe-se que "o mordomo é o culpado", isto é, o filme arrasta-se durante dois terços do tempo com a trama esclarecida. Já vi "Woody Allens" melhores.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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