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SEÇÃO
Crônicas
31/03/2006 - 17h00
Oração, coco, chuva e sol
João Soares Neto - Agência Carta Maior
 

Estava andando pela areia da praia. Em meio a nuvens carregadas, o sol pedia licença para sair e mostrar-se pleno. Era manhã cedo e procurei ver o meu derredor. Do lado esquerdo, perto de um espigão, um grupo de pessoas orava. Havia uma cruz de madeira fincada ao solo. Delimitava espaço e definia atitude. Estavam sentados em bancos improvisados de madeira, formando círculos. Não cheguei tão perto para ouvir o que oravam, mas dava para ver o estado de contrição de cada um. Pareciam estar a pedir proteção para as suas vidas, famílias e atividades. Mais à frente, na primeira curva, alguém montara uma venda improvisada de água de coco que poderia ser tomada em copos descartáveis ou em canudos devidamente encapsulados. Na precariedade do trabalho havia um mínimo de higiene e um atendimento cordial de um trabalhador desse tal mercado informal.

Ele estava ali porque certamente perdera emprego ou viera de uma paragem qualquer de uma cidade distante, banido pelo desengano. Mas tomara tento. Acreditava no que estava fazendo e usava uma flanela meio suja e úmida para limpar os cocos guardados em um grande isopor com gelo. A roupa, o corpo e as atitudes não mostravam uma pessoa derrotada, mas alguém que lutava com as forças que tinha e do jeito que podia para apenas varar o dia.

Logo à frente, um misto de guardador de carros ou flanelinha acena e ri com a fortaleza dos que sabem descobrir saídas, mesmo que tudo esteja adverso. Outra imagem, outro ensinamento a colher, por tantos que imaginam estar se cuidando e não ousam ver o seu derredor, tão pobre e tão rico.

Vou caminhando, o sol desaparece, cai uma chuva rápida, mas bastante forte para misturar-se ao suor de cada um, como se fosse unção a dizer que a água é símbolo de refrigério, de bênção, de lavagem das mágoas, ressentimentos e, ao mesmo tempo, um toque sutil em cada pessoa dando-lhe esperanças, limpando-a e preparando-a para o novo dia. E o sol volta, agora com força, e os seus raios recaem sobre um grupo de estrangeiros sentado ao derredor de uma barraca a beber e conversar, mais por mímica e afetos que por palavras, com jovens mulheres ainda em trajes usados para a noite de trabalho que podem ter tido, não se sabe a que preço, por quais razões e com quais sentimentos.

Pouco além, muitas pessoas obedecem a um instrutor e tentam alongar seus músculos, como se estivessem procurando estirar seu tempo no mundo. E o instrutor fala firme, corrige, exemplifica e vai mudando de comando, assim como a dizer que pés, pernas, coxas, cintura, abdome, ombros, braços, mãos, pescoço e cabeça, precisam de atenção como se cada um deles estivesse cobrando a parte que lhe toca neste bailado sem música, mas ritmado pela esperança.

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