Quando tucanos e "liberais" insistem em tentar derrubar o esquema petista mediante puras imputações criminais, abstendo-se pudicamente de fazer oposição político-ideológica, já confessam antecipadamente uma fraqueza que prenuncia desastres imensuráveis. Se o grupo petista atualmente no poder sustenta-se no desvio sistemático de dinheiro público, a esquerda continental, da qual esse grupo não é senão um pseudópodo especialmente saliente, apóia-se num aparato muito mais vasto e temível: a narcoguerrilha das Farc, o banditismo organizado do MIR chileno e outras entidades criminosas pertencentes ao Foro de São Paulo. A corrupção instalada no governo federal, preparada desde o começo da década de 90, é apenas uma engrenagem ínfima da máquina criminosa montada pelo movimento comunista para "reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste europeu". A concentração do ataque oposicionista em denúncias apolíticas pode parecer, no momento, um ardil inteligente, porque atrai para as trincheiras do anti-lulismo uma parcela da esquerda. Mas essa parcela só se volta contra os corruptos pegos com as calças na mão, queimados, indefensáveis. Por baixo, continua firmemente unida à máquina continental que os gerou. Ela só consente em juntar sua voz à gritaria moralizante porque acredita que, substituídas as peças que o escândalo tornou inutilizáveis, a máquina ganhará nova credibilidade para poder continuar delinqüindo em escala incomparavelmente maior. Como já aconteceu inúmeras vezes na História, a esquerda se subdivide para tirar proveito publicitário de seus próprios crimes, e o faz servindo-se da ajuda de adversários ingênuos e débeis. Insistindo em combater num campo limitado, mais proporcional à sua minguada coragem e à sua inteligência estratégica provinciana, esses adversários lhe entregam antecipadamente o controle do território maior. Tucanos e liberais estão tentando vencer num jogo simulado, enquanto fogem do combate real. Quando estiverem comemorando a vitória obtida nessa brincadeira, despertarão no meio de um campo de batalha, onde já não terão de enfrentar demagogos corruptos, mas guerrilheiros e narcotraficantes furiosos. Aí terão saudades do mensalão. Nota do Editor: Olavo de Carvalho é jornalista e filósofo nascido em Campinas, Estado de São Paulo, em 29 de abril de 1947. Tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. Professor de filosofia e diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade (RJ). Autor das obras "O Jardim das Aflições" e "O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras". Editor do site Mídia Sem Máscara.
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