Qual seria a diferença essencial entre a história do motorista da secretária de Collor, Eriberto França e do caseiro Francenildo Santos Costa? Bom, ambos advém desse "Brasil profundo", daquele povo sofrido a quem o PT denomina "os esquecidos que sofrem em silêncio há 500 anos", daquela parte da população incensada de forma falsa, utilitária e indecente pelo partido hegemônico. Para o partido, totalitário e simplificador como só, ambos seriam classificados igualmente, ou seja, por sua condição social. Isso seria o fator determinante na formação do caráter. Quanto pior fossem as condições sociais, melhor seria o caráter do indivíduo. Caráter forjado pelas dificuldades. Até aí, Eriberto e Francenildo serviriam aos mesmos propósitos, aqueles de aparecer nas propagandas do Bolsa Família, Petrobrás e afins como portadores "da cara do Brasil", sulcadas pelo sol a sol, personagens de João Cabral e Graciliano. A diferença entre os personagens não está essencialmente neles mas sim em como o partido os utiliza. Eriberto foi herói enquanto era necessário a degola de um presidente. Ele era a "cara do novo Brasil", "miserável porém honesto", símbolo do resgate da moralidade necessário para o "parto de uma nova era", ética, justa, bela, feliz, digna, assim como observamos hoje. Francenildo não. Ele já faz parte dessa nova era. Os símbolos são outros, também o são os heróis. Francenildo não é mais herói, é um reles ’caseirinho’ como afirmou o ex-metalúrgico, alguém que o próprio poderia chamar de ’ex-peãozinho’. Enfim, ele não é mais a cara do Brasil pois a coragem não mais pode estar estampada lá. O que pode estar no rosto é a desfaçatez, a sonsice, a malícia, a vulgaridade satisfeita. Não há porque querer mudar o que é quase perfeito, não é mesmo? Francenildo não possui o passaporte para o mundo melhor que só é dado aos sindicatos, aos msts, ao diabo que os parta. Ou seja, àqueles que podem entrar arrebentando. Francenildo Santos Costa cometeu um erro. Ele não entendeu que já não há mais lugar para sinceridade na nova era. E seu erro é um mérito pois os que entenderam e aceitaram são de dois tipos: os petistas e os covardes, variações de um mesmo tema.
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