13/09/2025  13h54
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
06/04/2006 - 14h05
Policarpo espacial
Fábio de Andrade - MSM
 

Nesses dias siderais que entramos em órbita (ou saímos dela?) pudemos conhecer o "peru" mais caro da história brasileira.

Explico: Na aviação há uma figura quase folclórica chamada peru. É o famoso carona, aquele sujeito que fica catimbando ao redor dos pilotos para descolar um vôo, uma carona ou mesmo um passeio.

O peru não atrapalha mas no geral também não ajuda. Ocupa espaço. A caridade dos pilotos e proprietários de aeronaves é o combustível da peruzada.

Mas no espaço a coisa fica mais séria. Se fosse um peru particular, endinheirado, como o Dr. Greg Olsen, tudo bem. Esse distinto gringo gastou 20 milhões de doletas para se avarandar por uma semana na Estação Espacial. Cada um dá o que tem, e dá o que é seu. Aliás, uma bela ajuda ao programa espacial russo que vive à cata de dinheiro para manter suas moderníssimas astronaves indo e vindo. É uma espécie de lotação ou perueiro. Quando falha o busão, manda a van.

Mas vamos tentar entender a gênese da nossa corrida espacial e eleitoral.

De um lado temos o nosso astronauta, militar como todo patriota e patriota como todo militar. Lutou boa parte de sua vida para se ufanar acima da estratosfera, plantando feijões no algodão. Mas como sempre rola uma treta, lá pelas tantas o tal "busão espacial" se estabacou. E nosso herói já estava com a passagem na mão e mala nas costas.

Deve ter sido um sufoco daqueles!

Anos de exaustivos treinamentos para nada? Mais espera? Frustração?

De outro lado temos um presidente com delírios totalitários, do mesmo partido que, num passado recente, afundou o próprio programa espacial brazuca, dispensando a ajuda americana em nome de uma tal "soberania". E esse presidente está numa enrascada infernal e precisa de um cabo eleitoral intergalático.

Prato feito. Sopa no mel. Dez milhões de dólares e mais algumas concessões ao russos de nossa Base em Alcântara foi o preço da mais arrojada propaganda política da história brasileira. Podem contar que no futuro alguém vai sair queimado dessa história... e o astronauta certamente vai sair candidato.

Nosso cambaleante presidente vai aloprar-nos dia e noite com a fantástica viagem espacial. Vai dizer que foi ele que planejou, calculou, inventou, apertou os parafusos... que um dia, num delírio noturno, viu a bandeira brasileira reluzente no espaço infinito. Ele é o cocheiro com delírios de estadista que encontramos no início de "Os Bruzundangas".

E nosso astronauta, de espírito elevado, compondo canções, agitando a camisa da seleção, é a mais perfeita reedição do Policarpo Quaresma.

Somos as histórias encarnadas de Lima Barreto. E esse escritor já sabia de uma coisa que poucos brasileiros atinaram: nada, absolutamente nada nesse País é sério. Não ajudamos na Construção da Estação Espacial, não desenvolvemos tecnologia de ponta, não criamos experimentos válidos para justificar uma viagem espacial, enfim, o Brasil de modo geral despreza o conhecimento.

E se alguns corajosos e valentes resolvem nadar contra a corrente e fazer ciência de verdade arrumam uma encrenca daquelas. Terão que lutar contra a burocracia universitária, o MST, as esquerdas, os intelecas estatais, enfim, lutar contra tudo e contra todos e correr o risco de morrer na praia.

O brasileiro nasce e já pequenino aprende a lição freire-gramsciana que está na boca de todos os educadores: Você é um coitado, um oprimido, um explorado, uma vítima do sistema e coisa e tal. Matemática e português, necas. Burro, ignorante e semi-analfabeto, cresce o brazuca cheio de ódio, um ódio intangível e inominável, um eterno mal-estar. Se entra para o círculo dos diplomados, lá pelas tantas se convence que não há realidade, que tudo depende do observador, que a junk science de Capra, Gotswami e congêneres é a quintessência da sabedoria.

Resultado: um semi-analfabeto, cheio de ódio e crente em seus poderes demiúrgicos. Alguém assim, além de desprezar o valor do conhecimento sequer o reconhece. E como todo convencido, acaba por odiar aquilo que não compreende.

Não espero um triste fim para nosso astronauta. Torço para que ele decole e pouse em segurança. Que seja feliz. Mas a lente de aumento do despeito e da empolação brasileira vai transformar esse acontecimento chinfrim numa retumbante odisséia. Podia ser sério. Podia ser científico, podia ser proveitoso e valer cada centavo. Podia...

Mas para variar, é só mais uma brincadeira.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.