Danúzia é um belo nome de mulher. Mas nunca foi muito comum. Nos meus cinqüenta e sete de idade, por exemplo, só conheci uma. Éramos vizinhos de prédio em Marechal Hermes, nesse intenso pedaço da vida que vai da infância ao final da adolescência. Quantas vezes a criança e o rapazola pôde dizer esse nome que é pura poesia!... Não dá para calcular. Mesmo porque... O dicionário Houaiss trata o verbete alcoviteiro sem muita sensibilidade. Entre as definições que registra não existe nem sombra daquele sentido de tom quase neutro, entre zangado e benevolente, com que os adultos nos brindavam em circunstâncias pertinentes: "Deixe de ser alcoviteiro, menino!" E o garoto de cabelos vermelhos sorria, namorando a palavra, pois ser o mensageiro do amor de uma amiga tão especial, linda de viver, só podia tornar alcoviteiro a ocupação mais inocente e gratificante do mundo. Danúzia e eu tínhamos mais ou menos a mesma idade, mas ela desenvolvera-se com rapidez na adolescência, ganhando formas que deixavam a rapaziada maluca. Isso e a simpatia sem mais tamanho que me reservava explicavam um pouco a ascendência que tinha sobre mim. Era só botar o bilhetinho de amor no meu bolso, que ele chegava na maior segurança ao seu destino. O namorado era da minha turma no ginásio, e logo me considerou seu melhor amigo, claro. Só agora percebo como eu era importante para ambos. Só agora percebo como aqueles dois corações deviam disparar de ansiedade à simples visão de minha pessoa. Tinha que dar em poeta mesmo. Afinal, parafraseando Kierkegaard, o poeta é o melhor que o herói e a heroína têm de si mesmos.
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