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Crônicas
13/04/2006 - 13h21
E se eu não conseguir traduzir o que sou?
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Preciso escrever logo aquela página que conta quem sou... ou, pelo menos, que conta o que penso o que é ser quem penso que sou. Para que todos saibam que... sou?

Idiota, vagabundo, autoritário, chorão, inteligente, sensível, sonhador... quantas qualidades já lhe atribuíram? E o que esses adjetivos disseram do que você realmente é? Ou do que você pensa que é? Eles não sabem, nunca saberão, se você não se deixar prender penduricalhos, logomarcas, bandeiras das coisas que você não é. O mistério é revelado na profunda verdade do seu ser, somente aos que mereceram receber a senha.

Traduzir-se em obras é o que os humanos fazem desde que se descobriram vivos. Tem aqueles espíritos pesados, para quem a expressão do ego não deve ter menos de mil toneladas, então se põem a erguer monólitos no centro da cidade.

Outros obreiros trabalham nos fios das partituras, revelando os luminosos acordes sinfônicos. É raro, nessas almas, uma expressão oral objetiva do que sejam seus desejos, suas visões. As notas se encarregam de escrever a história passada e futura, que somente se traduz como obra de execução presente.

Outros ainda há cujos espíritos sedentos de vida buscam a plenitude no extermínio de outrem. Generais, presidentes, marechais, rainhas, primeiros-ministros descrevem pelas mãos dos soldados o contorno de suas almas turbulentas.

Também conheço indivíduos que nada dizem, nem pretendem expressar algum detalhe de sua natureza íntima. Caminham, alimentam-se, procriam e dormem um sono sem sonhos. São como pássaros catando milhos nos campos do Senhor. Sua diáfana aparição no cenário mundano traduz-se em gestos tímidos, palavras mínimas, alguns assobios e uns poucos anos adejando feito borboletas e a Terra os recolhe para o silêncio.

Lembro de estar na praça, bebericando num abacaxi, quando a garota de olhos limpos chegou mais perto e perguntou "o que você quer ser?" Não sei se a vodca adocicada, se as fumaças do entardecer, se os murmúrios dos tocadores de banduras, se os perfumes da menina responderam pelos meus lábios "isto aqui, quero ser apenas o que estou sendo".

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