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Opinião
14/04/2006 - 20h04
Monumento às vaidades
Olavo de Carvalho - Parlata
 

O país inteiro está hoje mergulhado numa atmosfera turva de incerteza e temor. As denúncias que se sucedem nada esclarecem: só fazem aumentar a suspeita de que cada crime revelado oculta em seu bojo outro ainda pior, como sombras dentro de sombras, emergindo sem parar de um buraco sem fundo, alastrando-se por toda parte, encobrindo progressivamente o horizonte e o mundo.

Mais que a débâcle da moralidade, é a humilhação completa da inteligência, bracejando em desespero num mar de trevas, incapaz de enxergar um caminho, um sinal, uma esperança.

Não se chega a uma situação dessas sem uma longa e geral acumulação de mentiras, que pareceram convenientes no momento em que foram inventadas, mas cujo efeito global, ultrapassado um certo limite, arrisca ser nada menos que a supressão de todas as possibilidades de uma ação corretiva.

Não empreguei à toa as palavras longa e geral. A ocultação das forças essenciais em jogo começou há muito tempo. Remonta pelo menos a 1990, data da concepção do Foro de São Paulo. Ao longo de uma década e meia, enquanto o Luiz Inácio Lula da Silva resolvia os destinos do país em conversações secretas com Hugo Chávez e Fidel Castro e os três punham suas decisões em ação através de uma malha gigantesca de quase duas centenas de organizações legais e ilegais fielmente obedientes à linha de conjunto, a opinião pública brasileira, ignorante de tudo, tinha sua atenção absorvida inteiramente nas picuinhas parlamentares e administrativas do dia, como se não houvesse nada de mais importante acontecendo, como se estivéssemos na mais estável e aprazível das democracias européias, sem nada a discutir senão orçamentos e impostos. Jamais um povo foi privado, por tanto tempo, do conhecimento dos fatores fundamentais que moldavam o seu destino. Como esperar que, à sombra de tão profunda e duradoura alienação, não germinassem a trapaça e o crime em doses incontroláveis?

Mas quem, precisamente, foi o culpado por estender sobre os debates públicos esse manto de obscuridade, camuflagem ideal para as práticas mais obscenas do partido ético? Mais fácil seria fazer a lista dos inocentes. Não passam de umas dezenas. Todos os outros - líderes políticos, empresários, jornalistas, intelectuais, comandantes militares -, na mais branda das hipóteses, foram cúmplices da grande farsa de 2002, uma eleição em família, pré-moldada na escuridão do Foro de São Paulo e apresentada aos votantes, numa apoteose de ufanismo cínico, como a mais transparente da nossa História.

Será que agora, diante da imoralidade triunfante, esses indivíduos entendem que foram eles próprios que deram ao PT o salvo-conduto para delinqüir?

Será que um dia, neste país de tantos homens espertos, sempre com um sorrisinho de superioridade irônica no canto da boca, alguém vai aprender que esperteza é muitas vezes burrice, teimosia sonsa de uma aposta contra a verdade?

Parece que não. Admiradores de Maquiavel nem sabem que o secretário florentino, mestre dos espertalhões, foi sempre um perdedor, um derrotado, bom de bico como literato, mas crédulo e bobo em todas as situações da política prática, um deplorável infeliz sem nada a ensinar a ninguém senão a miséria de um ressentimento incurável.

Nada debilita mais a inteligência do que a obstinação orgulhosa na astúcia fracassada.

Entre a esperteza e a força, dizia Napoleão, a força sempre vence. E de onde vem a força? Vem da coragem de admitir a verdade, da franqueza na palavra e na ação, da clareza de propósitos, da imunidade a subornos financeiros ou, principalmente, psicológicos. Mas quanta gente, que nem pensaria em vender-se por dinheiro, não se vendeu por uns afagos da esquerda chique, pela delícia de sentir-se politicamente correto?

O preço do monumento que ergueram às suas pequenas vaidades é a humilhação sem fim de quem já não pode brandir a verdade contra o inimigo por medo de que a lâmina resvale na própria carne.


Nota do Editor: Olavo de Carvalho é jornalista e filósofo nascido em Campinas, Estado de São Paulo, em 29 de abril de 1947. Tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. Professor de filosofia e diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade (RJ). Autor das obras "O Jardim das Aflições" e "O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras". Editor do site Mídia Sem Máscara.

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