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Crônicas
15/04/2006 - 16h07
Santo Antônio, tenente-coronel e almirante
Deonísio da Silva
 

O Brasil tem santos muito populares. E um deles é Santo Antônio, a quem as moças casadoiras passaram a recorrer depois que uma delas, já em desespero, jogou a imagem do santo pela janela e atingiu um moço que passava na rua. Nem assim o santo deixou de atendê-la. O rapaz casou com a devota.
 
Santo Antônio nasceu em Lisboa e viveu entre os séculos XII e XIII. Apesar de ter tido carreira militar no Brasil, nada tem que ver com os tradicionais enlaces forçados, alguns deles feitos em delegacias de polícia. Sua formação guerreira inicia-se no século XVII, depois de uma vitória de católicos portugueses e brasileiros sobre luteranos franceses. O primeiro tempo, transcorrido em alto mar, foi vencido pelos protestantes, que aproveitaram para debochar da imagem do santo encontrada no navio que assaltaram. Seguiu-se uma tormenta danada, todos naufragaram e os que vieram em socorro encontraram a imagem na praia, onde o santo estava plantado, altaneiro.

Incorporado a nossas milícias, foi recebendo diversas promoções, chegando a tenente-coronel. Já vivíamos a era da esperteza, e outros recebiam o soldo em seu lugar até que, já na República, uma declaração anônima, escrita em lápis azul, determinou à margem do nome do santo: "privado de soldo até segunda ordem".

Nem mesmo Floriano Peixoto, quando Ministro da Guerra, deixou de honrar os soldos santos, suspensos somente a partir de 1923, depois que o famoso jurisconsulto Rodrigo Otávio de Langard Menezes, então consultor geral da República, deu parecer contrário a futuros pagamentos. Ainda assim, houve quem calculasse os atrasados, já que nunca tinham sido revogados os decretos de nomeação e promoção.

Um dos recibos foi passado no Rio de Janeiro, em 15 de junho de 1846. Lê-se o seguinte: "recebi do ilustre tenente-coronel Manoel José Alves da Fonseca, tesoureiro e pagador chefe das tropas desta capital, a quantia de 80 mil réis, importância relativa ao mês de maio último, do glorioso Santo Antônio, como Tenente-coronel do Exército". Era soldo e não pensão, como esclareceu em curioso despacho o então Ministro da Guerra José Antônio Saraiva.

Mas o santo, que teve carreira militar também no exterior, tendo chegado a almirante na Espanha, não escapou a curiosas perseguições no Brasil. Levado aos tribunais, foi condenado e perdeu todos os bens, inclusive algumas fazendas registradas em seu nome. Um juiz entendeu que quem deveria responder pelo crime de um escravo era seu dono. Ora, o dono era Santo Antônio. Intimado, o santo não compareceu. Para não ser julgado à revelia, foi arrancado do altar da igreja onde estava, no interior da Bahia, amarrado ao lombo de um burro e levado a julgamento sob vara, devidamente escoltado. O juiz chamava-se José Dantas dos Reis.

A religiosidade brasileira é cheia de sutis complexidades. Como disse Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes.


Nota do Editor: Deonísio da Silva é escritor, Doutor em Letras pela USP, autor de 30 livros, alguns transpostos para teatro e TV. Assina colunas semanais no Jornal do Brasil, na Caras e no Observatório da Imprensa. Dirige o Curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, no Rio.

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