“O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra 40 pessoas envolvidas com o esquema do mensalão”. Esse é o trecho da notícia que se lia no O Estado de S. Paulo (12/04/2006) e que vinha encimada pela manchete: “MP: PT formou organização criminosa para manter o poder”. Continuando a ler a matéria, mais espanto da parte do leitor capaz de indignação, pois os quadrilheiros são os homens mais importantes do presidente Luiz Inácio. Destaque para o chefão José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, Sílvio Pereira. Também foram denunciados Luiz Gushiken, João Paulo Cunha, Duda Mendonça e o prestimoso auxiliar de falcatruas, Marcos Valério. Apesar de ligações tão íntimas, Luiz Inácio continua um cidadão acima de qualquer suspeita. Nada sabe, nada vê, mesmo diante da queda de seu ministro mais importante, Antonio Palocci, tido como responsável pelo êxito da política macroeconômica do governo. E mais espantoso ainda: pesquisas continuam a indicar, pelo menos no momento, que o candidato à reeleição se mantém em primeiro lugar perante a opinião pública, o que leva a pergunta inevitável: que povo é esse, que se compraz com a corrupção? Certamente só as urnas em outubro poderão responder a essa indagação. De todo modo, é possível indicar pelo menos alguns fatores responsáveis pela manutenção do presidente da República em situação privilegiada, ainda que seus companheiros mais chegados sejam considerados como uma quadrilha. Entre as pistas para compreender o que se passa vejamos, então, algumas. Com relação aos eleitores nota-se uma grande desinformação. Mesmo na era da informação as pessoas tendem a vivenciar e perceber apenas seu restrito círculo familiar, seu grupo de trabalho e seu círculo de amizades. Além desse entorno limitado os indivíduos são seletivos quanto ao tipo de informação que lhes é passada, sobretudo pela TV. Isso por sua vez está ligado ao nosso nível educacional e, assim, o que motiva o maior interesse do público de modo geral é o entretenimento, as programações leves onde faz sucesso o Big Brother Brasil, naturalmente o futebol, além das tragédias que são sempre bem-vindas. Da comodidade do sofá se assiste os ídolos populares e o circo eletrônico dos programas de auditório alcançam grande índices de audiência. Como espelho mágico a TV reflete a sociedade e trabalha em cima das “necessidades” de divertimento popular. Não se pode desconsiderar também que, sem conhecimentos sólidos e informações mais requintadas, as mentes se tornam muito sensíveis às pregações demagógicas e às crenças diversas que são buriladas pela propaganda. E propaganda intensiva não tem faltado nesse governo. Ao comportamento popular estão associadas por sua vez as características da política brasileira. Por exemplo, não temos partidos naquele sentido clássico, no qual a organização partidária aparece nacionalmente como elo de ligação entre povo e governo, e é dotada de ideologia, disciplina e orientação programática. Nossos partidos são clubes de interesses particulares e por causa disso as pessoas votam geralmente não no partido, mas na pessoa do candidato. Decorre disso que não temos oposição para valer e apenas o PT sabe se opor, e de forma violenta. Mesmo assim, essa agremiação, que se dizia ideológica e ética, vem demonstrando que ao alcançar seus objetivos tornou-se o avesso da pregação de longos anos. Restou a pessoa do candidato mitologicamente apresentado como um pobre operário, único capaz de salvar a pátria. Isso explica também a excessiva proteção em torno da figura presidencial de Luiz Inácio o que, inclusive, atende às aspirações de poder dos seus correligionários, como diversos interesses de políticos de outros partidos. Não fosse a redoma em que o colocaram o presidente Luiz Inácio ele já poderia ter sofrido o impeachment, porque se acontecesse com outra autoridade os fatos a que se assiste, está já teria caído estrondosamente, sobretudo, se o PT fosse oposição. Note-se que uma das falsas defesas do presidente se baseia no argumento de que sempre houve corrupção no Brasil, o que absolutamente não justifica a aceitação da quadrilha formada pelos companheiros. Outro aspecto que beneficia Luiz Inácio é o fato que ele fez campanha desde o primeiro dia de sua posse, e conta com a máquina estatal que lhe possibilita, em que pese a incompetência de seu governo, distribuir bondades que na maioria das vezes não se realizam e utilizar intensivamente a mídia, principalmente os palanques eletrônicos da TV. Resta, então, esperar outubro para se saber se a quadrilha continua ou não a reinar. De todo modo, seus integrantes fazem lembrar a estória infantil: “Ali Babá e os Quarenta ladrões”. Quem gostar de Ali Babá que vote nele. Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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