Final de campeonato é engraçado. Tem sempre aquelas farras homéricas. Um monte de gente completamente bêbada, abraçada, pulando e gritando coisas do tipo ô ô ô ô nosso time é um terror. Mais ainda quando os holofotes das câmeras se acendem. A gente quase percebe que eles nem estavam tão animados assim, mas são as câmeras ligarem que todo mundo se abraça e começa a cantar ô ô ô ô nosso time é um terror. Mas até aí tudo bem. Os caras estão comemorando uma vitória. O time deles ultrapassou uma série de percalços, brigas internas, erros de contratação e, apesar de tudo, sagrou-se campeão. O problema é quando a gente começa a comemorar a derrota dos outros. Sabe aqueles caras que torcem contra? Fazem mais festa quando o adversário perde do que quando o time deles ganha? Então, tem um monte de sujeito assim. O cara torce para o Corinthians, mas comemora mesmo, de verdade, é quando o Palmeiras perde. Isso já me rendeu até um olho roxo uma vez. Um negão meio bêbado chegou para mim num boteco. Negão não, um afro-americano. De dois metros de altura. E ele se encostou e me perguntou quanto é que tinha sido o jogo do Palmeiras. Eu, pra não criar inimizades, falei pro sujeito que eu também torcia para o Palmeiras, mas não sabia quanto é que tinha sido o jogo. Bem, o cara era um corinthiano fanático, provavelmente membro fundador da Gaviões da Fiel, e partiu pra cima de mim com a fúria de um kamikaze. Com a ajuda de uns amigos, acabei sobrevivendo ao ataque, mas jurei por Deus que nunca mais iria declarar meu amor a facção esportiva alguma. E eu tenho um amigo também que, ao contrário do afro-americano da Gaviões da Fiel, é supereducado. Usa roupas finas. Gosta de passar perfumes. Um verdadeiro gentleman. Uma vez, eu estava passeando com ele de carro por São Paulo e, de repente, ele abriu a janela e deu uma cuspida pra fora. Pra falar a verdade, foi mais que uma cuspida. Foi uma daquelas catarradas mesmo, arrancadas do âmago de seu apodrecido ser. Eu olhei pra ele espantado. Ele olhou pra mim e, meio que para se explicar, simplesmente apontou o prédio pelo qual estávamos passando. Era o Parque São Jorge, o famoso estádio do Corinthians. Quer dizer, não importa raça, classe, credo ou ideologia. O ser humano gosta mesmo é de ver os outros se ferrarem. Sabe aquele brilhinho que a gente pode ver estampado nos olhos de todos os caciques do PSDB nos últimos meses, especialmente depois que o Palocci caiu? Então. É disso que eu estou falando.
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