Quase ninguém ainda faz aquelas brincadeiras de 1º de abril. Muitos brasileiros mais jovens - destes que não sabem nada nem sabem de nada - não ignoram o que é balada e o que é craque, mas desconhecem solenemente o significado de "Caiu, caiu! Caiu no 1º de abril!". Apesar disto, o dia 1º de abril de 2006 vai entrar para a história como o Dia do Astronauta Brasileiro. Como os que ainda lêem jornal - rara species em via de extinção - sabem muito bem, foi neste glorioso dia em que a Ilha de Santa Cruz foi descoberta... Meia-verdade e/ou meia-falsidade! É certo que ela foi descoberta no referido mês, mas vinte dias depois. E além disso, não era ilha coisa nenhuma: era terra firme, Terra de Santa Cruz hoje chamada de Porto Seguro (BA) in Terra Brasilis. Muita gente ignora a existência desse importantíssimo projeto militar, que é o PEB (Programa Espacial Brasileiro), um projeto destinado ao domínio da tecnologia astronáutica, de modo que nossa pátria fique livre da dependência das grandes potências bélicas no que tange à fabricação de foguetes, satélites artificiais, estações espaciais, e tudo quanto diz respeito ao domínio do espaço sideral. Para isto, o Brasil já investiu alguns milhões de dólares na construção do Cabo Canaveral da Terra do Babaçú e da Carnaúba, ou seja Base de Lançamentos de Foguetes de Alcântara (MA), onde técnicos altamente especializados constroem foguetes com tecnologia 100% nacional e com vistas a colocar em órbita o primeiro satélite artificial brasileiro, enquanto em frente da base pescadores de caranguejos enfiam suas mãos na lama, apesar de não pertencerem ao Congresso Nacional. Ah! Lembro-me bem dos dias pioneiros da astronáutica... quando lá pela década de 50 os soviéticos colocaram no espaço o primeiro satélite chamado Sputnik. Nesta mesma época no Brasil, a Casa da Moeda pôs em circulação umas moedinhas que não valiam chongas: tínhamos que enfiar a mão no bolso e puxar um punhado delas, para pagar um simples cafezinho! O povo carioca não perdeu a oportunidade: costumava-se dizer que os russos tinham lançado o Sputnik e o governo brasileiro tinha lançado "os puto níqueis". Dizia-se também que o Brasil tinha posto em órbita, com alto sigilo militar, o primeiro satélite brasileiro chamado Conceição. Se não era uma drag queen, por que raios ele assim se chamava? Ora, "Se subiu ninguém sabe, ninguém viu". Explico para menores de 50 anos em particular e desmemoriados em geral. Nesta mesma época, Cauby Peixoto - hoje cantor de churrascaria - fazia um tremendo sucesso no rádio cantando Conceição, uma bela melodia em primorosos e inolvidáveis versos. "Conceição, / eu me lembro muito bem, / vivia no morro a sonhar / com coisas que o morro não tem. / Foi então / que lá em cima apareceu / Alguém que lhe disse a sorrir / que descendo à cidade, ela iria subir. / Se subiu, / ninguém sabe, ninguém viu / Mas hoje daria um milhão / para ser outra vez Conceição". [Êta memória de elefante!]. Passaram-se muitas e muitas luas, cara pálida, e a ambição do Brasil de conquistar o espaço sideral deixou de ser motivo de galhofa geral e de piada carioca em particular. Foi criado o Programa Espacial Brasileiro e, como não podia deixar de ser - tal qual o Cabo Canaveral dos americanos (FL) - foi construída a Base Espacial de Alcântara, na terra natal do imortal José Sarney e do poeta neomarxista-leninista-brechtiniano Ferreira Gular (Bá! Nenhum parentesco com João Goulart, que era gaúcho de sete costados e pelegos, índio velho lá da fronteira, que atendia pelo nome de guerra de Jango, tchê!). [Qualquer dúvida a respeito do preciso significado dos vocábulos acima dispostos pode ser completamente dissipada, mediante rápida consulta ao Dicionário Gaúcho de Alberto Juvenal de Oliveira publicado em Porto Alegre pela Age Editora em 2002 - Obra definitiva em seu gênero! Creio que ainda inencontrável na Internet]. É verdade que as experiências científico-tecnológicas de lançamento de foguetes em Alcântara não têm sido muito bem sucedidas. Na última que se tem notícia, um foguete torrou no solo devido ao superaquecimento, antes mesmo de cortar o céu de anil deste meu Brasil varonil. Morreram tostados 21 técnicos civis! Apesar deste lamentável acidente de percurso, não temos motivos suficientes para abandonar o Programa Espacial Brasileiro, mas temos razões de sobra para continuar fazendo os testes necessários com vistas à construção do primeiro foguete nacional lançador de satélites. É escusado frisar a importância dessa notável conquista da tecnologia pátria. Antes de qualquer coisa, trata-se de um aspecto crucial da estratégia de defesa de nosso amplo território e uma completa nacionalização das telecomunicações, livrando-nos da dependência de satélites americanos que rasgam nossos céus transmitindo sinais captados por nossas atenas paranóicas, perdão: antenas parabólicas. No que diz respeito à dependência do gás boliviano e do humor do caboclo Evo Morales, isto é uma outra estória! Mas a culpada mesmo é uma transnacional conhecida como BRASPETRO, que explora vilmente o pobre povo boliviano! Por isso mesmo, este mesmo povo brada: MUERTE A LOS DESGRACIADOS CAPITALISTAS BRASILEÑOS! Para não descer a maiores detalhes, basta dizer que o PEB é semelhante a SEI (Secretaria Especial de Informática) criada no governo Figueiredo e destinada à fabricação nacional de computadores em substituição dos importados da IBM, Microsoft etc. pelos similares nacionais. É verdade que as máquinas produzidas no Brasil eram de qualidade muito inferior e custavam o dobro das importadas. Porém tais coisas não devem ser encaradas com a ótica de mesquinhos interesses pessoais e sim sob o prisma dos mais altos propósitos danação. No que diz respeito à qualidade, ela seria aperfeiçoada com o tempo, mediante uma série de tentativas e erros (esperando, é claro, que não fossem sacrificadas tantas vidas em nome da ciência e da tecnologia, como em Alcântara). E quanto ao elevado custo era o preço que tínhamos que pagar por nossa independência informática. A exemplo daquela das telecomunicações, a da informática era e ainda é uma questão de alta estratégia militar, não uma reserva de mercado para meia dúzia de apaniguados civis e militares - como espíritos maldosos insinuavam na época e ainda ousam fazer tal coisa. O mesmo caberia dizer, entre outras coisas, da centralização da Capital em Brasília enquanto manobra defensiva ante uma possível - ainda que muito pouco provável - invasão das nossas fronteiras e/ou costas pelos argentinos. Na realidade, eles só têm feito tal coisa durante o verão nas praias de Torres, Tramandaí e Camboriú, usw. refrescando seus corpos e aquecendo nossas economias locais, hospedando-se em hotéis e comprando bugigangas artezanais (com z mesmo, porque os donos das biroscas e bazares são analfabetos!). E se ’tá entrando grana, ’tá reclamando de que, ô mané? Dando prosseguimento, porém, ao Programa Espacial Brasileiro, já treinamos ao menos um astronauta para entrar em órbita da Terra. Como não dispomos ainda de um foguete capaz de conduzi-lo até a estação espacial internacional - entenda-se russo-americana -, pagamos 10.000.000 de dólares (dez milhões de dólares!) para que o coronel Marcos César Pontes, com seu simpatissíssimo sorriso, viajasse para a base russa do Cazaquistão, local em que seriam enviados para a Estação Espacial três astronautas: um russo, um americano e um brasileiro. Ah! Como as coisas mudaram no período Pós-Guerra Fria! Daqui a uns tempos, os russos estarão tomando caipirovska e comendo donuts e os americanos fazendo uma perestroika para obter glasnost. Desde criança, quando os outros meninos brincavam de polícia e ladrão aqui no Rio de Janeiro, na progressista cidade de Baurú (SP) Marcos César Pontes só queria brincar de astronauta. Entrava em seu foguete de mentirinha e sentia-se como o russo Gagárin e o americano Armstrong. Uma sentença ecoava gloriosa em sua mente: "Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade"... (dita pelo primeiro astronauta a dar o primeiro passo na Lua). Mais tarde quando ele já era adolescente a leitura de livros como Viagem à Lua de Júlio Verne e Eram os Deuses Astronautas? de Eric von Daniken alimentavam seu sonho dourado de entrar numa nave espacial e ficar girando em torno da Terra. Sabia ele que, vista lá de cima, a Terra é azul, mas queria ver isso com seus próprios olhos castanhos que a terra há de comer. E eis que, tal como o da Mara do Big Brother, seu sonho se realizou. Com a diferença de que o dela era ganhar R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais) e o dele não era gastar $ 10.000.000, 00 (dez milhões de dólares!), embora fosse esse o preço de seu sonho para a Viúva. O Presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) protestou indignado. Considerou que enviar um astronauta brasileiro para o espaço estava longe de ser uma prioridade no âmbito da ciência e tecnologia. De fato, poder-se-ia pensar que a coisa servia muito mais de propaganda destinada a aumentar o status de prestígio internacional do Brasil (vindo ao encontro dos anseios da política neoindependente de Lulla e de Excelso Amorim, tendo como finalidade última e precípua conquistar um assento no Conselho de Segurança da ONU) do que dar uma efetiva contribuição científico-tecnológica para o Programa Espacial Brasileiro. Data maxima venia, discordamos veementemente do Presidente da SBPC e de todos quantos sustentam posição semelhante à dele! É verdade que $ 10.000.000,00 (dez milhões de dólares!) é um elevado gasto militar, considerando que seriam muito mais bem aplicados na segurança dos quartéis ameaçados por criminosos e nos ranchos dos recrutas ameaçados pela escassez de verbas. Contudo, isto seria ver as coisas com um olhar padecendo de atroz miopia, incapaz de vislumbrar os altos desígnios a que o Brasil está predestinado no conserto das nações escangalhadas, quais sejam: entrar para o Clube Atômico, apesar do canhestro episódio da Serra do Cachimbo, e ter seu próprio satélite artificial, não importando que saia mais barato alugar uma vaga num americano ou europeu, como, de resto, fazem países sem pretensões de ser potências bélicas, tais como o Japão e a Austrália, que aliás vão muito bem no IDH, mesmo sem ter nada que se compare ao PEB). Fala sério! Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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